Limites do Acordo de Paris podem não ser suficientes para impedir degelo e subida do mar

Cientistas avisam que limite de aquecimento global de 1,5 graus Celsius, definido no Acordo de Paris de 2015, pode não ser suficiente para travar a perda de gelo nos pólos e evitar a aceleração da subida do nível do mar.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Communications Earth & Environment’, cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos da América alertam que esse limite é “demasiado elevado” e que deveria, ao invés, ser reduzido para um grau Celsius.
O aviso tem por base a análise dos efeitos dos 1,5 graus de aquecimento nas camadas de gelo da Gronelândia e da Antártida, cuja perda de gelo quadruplicou desde a década de 1990 e altamente ronda os 370 mil milhões de toneladas por ano. E tudo isso com 1,2 graus de aquecimento, segundo estimativas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
Por isso, estes investigadores argumentam que deixar o planeta chegar à 1,5 graus acima da temperatura média do final do século XIX poderá fazer aumentar o nível do mar em vários metros ao longo dos próximos séculos, fruto da continuação do degelo na Gronelândia e na Antártida. Perante essa subida, maior do que a que hoje já se observa em várias partes do mundo, a adaptação, especialmente das comunidades e regiões costeiras e insulares, será muto mais difícil e mais dispendiosa, podendo forçar a deslocação de milhões de pessoas.
“Limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius seria uma grande conquista e esse deve, sem dúvida, ser o nosso foco”, reconhece Chris Stokes, da Universidade de Durham e primeiro autor do artigo. “Contudo, mesmo que essa meta seja alcançada ou apenas temporariamente excedida, as pessoas têm de estar cientes de que é provável que a subida do nível do mar acelere para níveis aos quais é muito difícil adaptar”.
Para o cientista, aumentos de um centímetro por ano “não estão fora de questão” e podem acontecer ainda durante a vida de muitos daqueles que hoje ainda são jovens.
Stokes acredita que os legisladores e os decisores políticos que participam nas negociações nas cimeiras globais sobre alterações climáticas, as COP, devem conhecer a fundo os efeitos que mesmo o limite de 1,5 graus tem nas camadas de gelo e nos níveis marinhos. E lembra que atualmente cerca de 230 milhões de pessoas em todo o mundo vivem um metro acima do nível do mar, comunidades essas que, com o aumento projetado, poderão enfrentar uma “ameaça existencial”.