Polvo com nove braços documentado pela primeira vez na Natureza



Na ilha de Ibiza, no arquipélago espanhol das Baleares, cientistas do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) documentaram o que dizem ser o primeiro caso de um polvo com nove tentáculos funcionais em regime selvagem.

As imagens do indivíduo em causa, um macho de polvo-vulgar (Octopus vulgaris), batizado com o nome “Salvador”, foram captadas em 2022, e, na verdade, mostram um animal, conhecido pelos seus oito braços (como indica o seu nome científico Octopus, considerado uma latinização da palavra grega “októpus”, que significa “oito braços”), com um oitavo tentáculo bifurcado e funcional.

Num artigo publicado na revista ‘Animals’, que resultou de um trabalho de observação de cinco meses desse mesmo indivíduo, os investigadores salientam a “adaptabilidade impressionante” que esses moluscos cefalópodes têm, sendo capazes de recuperar e continuar a prosperar mesmo depois de ferimentos graves.

Embora não tenham registo do que terá acontecido, acreditam que “Salvador” terá perdido o seu braço durante um encontro com um predador no passado. Quando voltou a crescer, esse tentáculo deu origem a dois, embora, segundo as imagens, pareçam ser diferentes dos restantes, pelo menos no tamanho e grossura.

“Os polvos têm braços flexíveis com numerosas células nervosas, que lhes permitem explorar e interagir com o seu ambiente de formas únicas”, explicam os autores do estudo. “Por vezes, estes animais desenvolvem traços invulgares, como braços extra ou divididos, mas pouco se sabe sobre como isso afeta o seu movimento e comportamento.”

Através de câmara subaquáticas, a equipa quis desvendar o mundo desconhecido desses polvos com características peculiares.

Embora possamos pensar que todos os braços de um polvo são iguais e desempenham as mesmas funções, estudos apontam para especializações: alguns braços são mais usados para explorar o que está à frente, atrás e de cada um dos lados do animal, outros são usados para tatear o que está por baixo dele, e outros ainda para a locomoção.

No caso deste braço bifurcado, os cientistas perceberam que uma das ramificações era mais usada na alimentação, enquanto a outra estava mais dedicada à exploração.

Inicialmente, “Salvador” usava esse estranho tentáculo sobretudo para tarefas perto do seu próprio corpo, como se o quisesse manter protegido, algo que atribuem a algum tipo de memória da dor resultante da perda ou uma aprendizagem por experiência. Contudo, à medida que o tempo foi passando, o polvo foi usando esse braço cada vez mais para tarefas complexas e mais arriscadas (ou seja, que podiam causar uma nova perda), como a exploração e procura de alimento, tateando por rochas e buracos escuros.

O facto de o polvo ter sido capaz de reorganizar o funcionamento dos seus nove braços, isto sabendo que nasceu com oito, revela, dizem os cientistas, “mecanismos neurais complexos que podem inspirar novas aplicações na robótica, na neurociência e na medicina regenerativa”.

Ainda assim, a descoberta suscitou uma série de novas questões. Por exemplo, como é que os polvos transformam o seu sistema nervoso para integrarem novos tentáculos?

Uma possível nova via de investigação, sugerem os autores, será perceber “o que acontece aos neurónios de um braço de polvo perdido”, para saber se são redistribuídos pelo corpo do animal ou simplesmente perdem-se definitivamente. Outra questão prende-se com o número de neurónios no braço regenerado bifurcado: terá o dobro do número habitual de neurónios?

São perguntas ainda sem resposta, mas, seja como for, esta descoberta deixa claro que os polvos, tal como o “Salvador”, são animais extremamente adaptáveis, capazes de dar a volta por cima a situações que, para muitos outros, seriam o fim da linha.






Notícias relacionadas



Comentários
Loading...