ONU alerta para “enormes desafios” em Moçambique face às mudanças climáticas

O Grupo de Segurança Alimentar das Nações Unidas alertou hoje para os “enormes desafios” enfrentados por Moçambique face às mudanças climáticas, destacando a gestão comunitária dos recursos naturais como “mantra” de desenvolvimento sustentável no país.
“Em Moçambique, onde quase 70% da população reside em zonas rurais e cerca de 80% depende diretamente dos recursos naturais para alimentação, saúde e sustento, os efeitos adversos das mudanças climáticas representam um enorme desafio”, disse Ricardo Torres, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), na VI Conferência sobre Maneio Comunitário dos Recursos Naturais, em Maputo.
Segundo o representante, a gestão comunitária dos recursos naturais, testada nos últimos 30 anos em países como Moçambique, tornou-se “um mantra de desenvolvimento sustentável”.
“Face às mudanças climáticas, esta abordagem revela-se cada vez mais importante, tanto na mitigação dos seus impactos sobre os recursos naturais como no fortalecimento da resiliência das comunidades, principalmente no contexto da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável”, explicou.
Na ocasião, Daniel Maula, presidente da Rede da Gestão Comunitária de Recursos Naturais (Rgco), avançou que cerca de 17 mil agregados familiares já estão envolvidos neste tipo de gestão no país, divididos em 72 comités de base, num território estimado em 200 mil hectares.
“Este esforço coletivo (…) [é] sinal de que a abordagem funciona e que as resoluções só podem ser possíveis se a intenção de trazer as mudanças para a mesa for genuína”, declarou Maula, responsável pela rede que promove a implementação de iniciativas de gestão comunitária de recursos naturais, priorizando a participação e inclusão das comunidades locais em Moçambique.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.
Só entre dezembro e março, o país já foi atingido por três ciclones, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.
Os eventos extremos provocaram pelo menos 1.016 mortos em Moçambique entre 2019 e 2023, afetando cerca de 4,9 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.