Novas espécies de lémures “na calha” mesmo após 50 milhões de anos de evolução



A “explosão” de novas espécies de lémures, que começou quando esses primatas não-humanos chegaram pela primeira vez a Madagáscar há cerca de 53,2 milhões de anos, ainda não esmoreceu.

A revelação é feita por uma equipa internacional de cientistas que, num artigo publicado na revista ‘Nature Communications’, diz ter identificado três grupos de lémures com uma alta taxa de especiação (o processo que dá origem a novas espécies) e que argumenta que esses animais continuam a pôr em causa a ideia, subjacente aos estudos evolutivos, de que a rápida expansão da diversidade de espécies é seguida por um abrandamento.

Contudo, apesar do nível de especiação detetado, os lémures enfrentam uma pressão cada vez maior, sobretudo por causa da expansão humana e da destruição dos seus habitats naturais.

“Ao mesmo tempo que mais e mais espécies de lémures continuam a evoluir, estamos também a empurrá-los rapidamente para a extinção”, afirma Kathryn Everson, da Universidade Estadual de Oregon (Estados Unidos da América) e primeira autora do estudo. Em comunicado, a bióloga recorda que, atualmente, 95% das espécies de lémures estão classificadas como ameaçadas.

Existe hoje mais de uma centena de espécies de lémures em Madagáscar, um país insular do Oceano Índico a cerca de 400 quilómetros da costa de Moçambique, sendo que outras 16 terão desaparecido algures nos últimos dois mil anos por causa da chegada dos humanos à ilha.

Embora quando pensemos em lémures a imagem dos famosos lémures-de-cauda-anelada (Lemur catta) seja uma das primeiras que se forma na nossa mente, Everson diz que esses primatas não-humanos “assumem muitas formas diferentes”. Nesse grupo muito diverso incluem-se o primata mais pequeno do mundo, o Microcebus berthae, com apenas nove centímetros de comprimento e 30 gramas de peso, e uma espécie já extinta que era tão grande como um gorila.

Através da análise genética de 129 lémures selvagens em Madagáscar, Everson e a equipa dizem que “a diversidade de espécies de lémures continua a explodir hoje, após dois milénios de presença humana”, e revelam que os géneros Eulemur, Lepilemur e Microcebus têm taxas de especiação que “atualmente são muito altas”.

Os investigadores acreditam que compreender a taxa de especiação, que é medida pela velocidade a que novas espécies se formam e, por norma, é expressada pelo número de novas espécies que surgem a cada milhão de anos, é importante para saber quão rapidamente acontece o aparecimento de novas espécies, para perceber quando a especiação começa a abrandar e para fazer comparações com outros grupos de animais.

Sobre os três géneros com as taxas mais elevadas de especiação, os cientistas sugerem que a hibridação, ou o cruzamento entre espécies diferentes, pode ser um dos fatores que lhes dá capacidade para ainda conseguirem produzir novas espécies.

Para Everson, os resultados obtidos nesta investigação sugerem que “a hibridação nestes primatas não é um beco sem saída evolutivo, como frequente pode ser, mas sim potencial combustível para a diversificação”.






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