Kiribati poderá desaparecer dentro de 30 anos (com FOTOS)
O ponto mais alto de South Tarawa, a capital de Kiribati, sobrevive graças aos sacos de areia e rochas que travam o avanço da água do mar. Ao mesmo tempo, do outro lado do Pacífico, decisores climáticos e políticos debatem formas de controlar este aumento do nível do mar e de impedir que o pequeno país fique submerso.
Porém, para a maioria dos habitantes de Kiribati que vivem no gume afiado das alterações climáticas, o problema é um mal abstracto face à pobreza calamitosa que enfrentam todos os dias. Metade da população deste país, com cerca de 102.000 habitantes, vive na empobrecida South Tarawa. Grandes famílias, muitas vezes com 20 ou mais elementos por casa, vivem em frágeis construções apoiadas entre os coqueiros e no meio de animais domésticos e pilhas de lixo.
Não há espaço para a privacidade. Quem não tem casa de banho utiliza a areia branca da praia. As crianças passam o dia a nadar numa lagoa de cor azul eléctrico, que serve como uma importante zona de pesca mas também de esgoto a céu aberto. Por outras palavras, é a favela mais idílica do mundo.
A água potável da ilha está em crise perpétua e as reservas subterrâneas estão poluídas e cada vez mais salinizadas pela água do mar que se vai infiltrando. Alguma água que é tratada pelo Governo chega a algumas comunidades, mas está disponível apenas algumas horas por semana. Para minimizar a situação muitas famílias constroem tanques nos telhados das habitações para aproveitar água das chuvas. Mas, por aqui, a chuva é cada vez mais escassa.
Neste país o emprego escasseia e a maior parte da população subsiste da pesca e da pequena agricultura. O peixe e o arroz compõem a maior parte da dieta destas pessoas. 99,5% dos habitantes de Kiribati não comem vegetais suficientes e quase um quarto da população sobre de diabetes, escreve o Guardian.
As indignidades diárias e as debilidades criadas pela pobreza tornam a diplomacia internacional irrelevante. Para os habitantes destas ilhas do Pacífico, qualquer acção que seja agora tomada será demasiado insignificante e demasiado tarde. A pobreza será o factor mais importante para determinar que pessoas vão morrer ou ficar sem casa devido às alterações climáticas. Os efeitos vão ser mais nefastos em locais como South Tarawa e não por causa da geografia, mas sim por que em locais como este não existem recursos para que as pessoas se possam defender do clima mais violento.
Porém, os habitantes destas ilhas parecem conformados e não mostram qualquer rancor pela inacção das nações ricas. “As alterações climáticas estão a tornar o tempo muito quente. As chuvas são poucas. Quando há maré alta sabemos que sobe muito mais que antes”, conta Tataio, uma habitante de Kiribati. Na escola é ensinado às crianças o que são as alterações climáticas e os seus efeitos. Mas muitas pessoas mais velhas e com menos educação têm um conhecimento limitado das causas das alterações climáticas. Questionada sobre o que é o aumento do nível do mar, Tatatio sorri e abana a cabeça. “Dizem que talvez dentro de 30 anos Kiribati vá desaparecer. Não sabemos o que vai acontecer. Mas eu estou sempre feliz”, afirma Tataio.
Fotos: DFAT photo library / KevGuy4101 / Creative Commons
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