“A Volkswagen raramente é a primeira a propor uma inovação, mas é a primeira a democratizá-la”



A Volkswagen prefere democratizar a inovar, e é por essa razão que a entrada da marca alemã nos veículos eléctricos foi cuidadosamente preparada. Numa entrevista sem rodeios, o director de marketing da Volkswagen, Ricardo Tomaz, explica a estratégia da marca para os veículos eléctricos, avalia a indústria e confirma que há ainda muito trabalho a fazer para tornar os veículos eléctricos apelativos ao consumidor – mas esse caminho está já a ser trilhado.

Qual o objectivo de vendas do e-Golf e e-Up para o primeiro e segundo ano?

O mercado dos veículos eléctricos em Portugal (como aliás, na Europa) é ainda emergente e representa um volume limitado – até pela tipologia de clientes que os compram. Na primeira metade de 2014 venderam-se pouco mais de 100 carros eléctricos [em Portugal].

Não faz muito sentido estabelecer objectivos de vendas num contexto destes. Vamos desenvolvendo a nossa acção de marketing e ajustando os volumes à realidade das encomendas.

Por que razão a Volkswagen lançou dois eléctricos num curto espaço de tempo?

A Volkswagen chegou a este mercado como costuma fazê-lo em relação a outras inovações: apenas quando o desenvolvimento tecnológico está totalmente apurado e quando o preço de venda corresponde às excpetativas dos potenciais clientes. É o caso do e-Up e do e-Golf.

O e-Up já tinha sido lançado em alguns mercados europeus no ano passado. Em Portugal, decidimos lançar os dois modelos simultaneamente, potenciando o efeito de novidade da marca neste mercado.

O e-Up! está disponível a partir dos €25.700, um preço muito interessante para carro eléctrico. Como irão reagir os consumidores portugueses?

O posicionamento do e-up é a “acessibilidade”, que consubstanciámos no headline: “A electricidade quando nasce é para todos”.Com este preço, estamos claramente na faixa de entrada do mercado, sobretudo se pensarmos que vendemos o nosso carro com bateria incluída. Para aqueles clientes muito sensíveis ao preço, é um argumento forte.

Pode dizer-se que a Volkswagen entrou tarde no mercado dos eléctricos? Porquê?

A Volkswagen entrou no mercado quando julgou que podia propor um veículo eléctrico que correspondesse às expectativas do mercado (nomeadamente em termos de autonomia ) a um preço muito competitivo. Não tem sentido que sejam os clientes a pagar o desenvolvimento tecnológico de uma inovação. A Volkswagen raramente é a primeira a propor uma inovação, mas é geralmente a primeira a democratizá-la.

Que outros lançamentos de eléctricos têm previsto para os próximos tempos em Portugal?

Por enquanto, o e-up e o e-Golf representam a gama de veículos 100% elétricos da marca. O que lançaremos posteriormente, a partir do final deste ano, será uma família de híbridos Plug-in. Julgamos que esta tecnologia tem um enorme potencial e prepara o terreno para as vendas dos 100% elétricos, até porque cria o hábito do carregamento nos consumidores.

Os eléctricos são ideais para uma condução citadina. Concorda?

Sim. Na nossa previsão de segmentos de clientes, encontramos as empresas urbanas com necessidades de transportes recorrentes e curtos, assim como alguns particulares que pretendem fazer um “statement” acerca da sua atitude ambiental e que são “short commuters” urbanos.

Conduz um eléctrico no seu dia-a-dia?

Não.

O que diria para convencer um consumidor que esteja indeciso entre um carro dito tradicional e um eléctrico a comprar este último?

Se a sua tipologia de utilização corresponder ao perfil que tracei acima, falaria na vantagem que um eléctrico tem em termos de custos de utilização.

Apesar da sua grande notoriedade, a verdade é que o mercado dos veículos eléctricos ainda é muito reduzido em Portugal. Porquê?

Se exceptuarmos mercados como o norueguês, em que os poderes públicos criaram uma verdadeira ruptura cultural a favor do carro eléctrico, discriminando-o positivamente (estacionamento, corredores de circulação, quadro fiscal), poucos são os países em que esta tecnologia tem relevância nas vendas. A reduzida autonomia e o preço são os factores inibidores neste momento, mas ambos estão a evoluir depressa no bom sentido.

Várias marcas automóveis estão a lançar as suas versões eléctricas de veículos com motor convencional. Existe alguma união da indústria para tentar mudar a mentalidade dos consumidores, ou é cada um por si?

A Volkswagen optou por lançar versões eléctricas dos seus modelos convencionais: o up e o Golf. É uma estratégia que pretende incutir confiança no consumidor: um Volkswagen eléctrico tem todas as qualidades de um Volkswagen. Só que é eléctrico… Outros concorrentes escolheram outros caminhos, não há neste mercado nenhum tipo de “união” estratégica, nem era de esperar que assim fosse.

O tema dos veículos eléctricos está cheio de mitos e lugares-comuns que nem sempre representam a verdade. Existe algum plano global para retirar algumas das dúvidas dos consumidores? O que tem feito a Volkswagen para alterar esta situação?

O veículo eléctrico vem pôr em questão muitos dos dogmas da mobilidade automóvel, estabelecidos durante dezenas de anos, o menor dos quais não deixa de ser a autonomia limitada. Todas as marcas têm feito uma pedagogia junto do consumidor de forma a explicar as vantagens objectivas das energias alternativas: economia de utilização, atitude ambiental.

Mas, neste caso, é útil que os poderes públicos possam dar um empurrão institucional, sob forma de legislação que privilegie os eléctricos em relação aos veículos tradicionais, sobretudo nas cidades. É uma grande ajuda à mudança de mentalidades que este mercado pressupõe.

O vosso acordo com a Europcar pode ser uma solução para quem ainda tem medo da falta de autonomia dos veículos eléctricos. Que outras tácticas podem ser utilizadas para levar as pessoas a comprar um eléctrico?

Assegurar a mobilidade é vencer a principal barreira psicológica dos potenciais clientes. Outros serviços  deverão contribuir para reduzir o grau de incerteza que rodeia a utilização deste tipo de veículos. Facilitar o carregamento por exemplo.

De que forma a indústria dos combustíveis fósseis tem pressionado a indústria automóvel para reduzir a inovação na mobilidade eléctrica?

A indústria automóvel avançará sempre ao seu melhor ritmo, neste como noutros domínios da inovação, se perceber que há um mercado potencial a prazo, com vendas e rentabilidade.





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