Acácias: uma séria ameaça à biodiversidade das florestas



A introdução de espécies não autóctones, com objectivos culturais, económicos ou apenas ornamentais tem vindo a transformar a paisagem nas florestas ao longo das últimas décadas.  A perda de identidade paisagística e as diversas consequências ecológicas associadas à invasão por infestantes lenhosas são problemas que podem tornar-se irreparáveis, se não forem enfrentados com os meios e a capacidade técnica adequada.

Em comunicado, a associação ambiental Quercus lembra que “o comportamento de uma espécie inserida num meio distinto do seu ecossistema original pode tornar-se imprevisível. Mesmo quando os testes e ensaios de introdução apontam para a estabilidade do comportamento das espécies, dentro de limites controláveis, inesperadas alterações do meio, podem desencadear imprevisíveis situações de expansão descontrolada.”

Introduzidas em Portugal para utilização como plantas ornamentais e também com objectivos específicos como fixação de taludes e barreiras à expansão de zonas dunares costeiras, cedo foram vistas como uma mais valia económica. Usadas para a produção de taninos e carvão, foram sendo inseridas na paisagem amiúde, não se sabendo na altura as “consequências gravosas” que iriam trazer para a floresta portuguesa.

“Estas espécies formam matas cerradas que atingem dezenas de milhares de plantas por hectare e produzem vários milhões de sementes que podem manter-se viáveis durante décadas. A germinação destas sementes é estimulada pelos incêndios e, devido ao rápido crescimento das plantas, acabam por dominar as restantes espécies”, explica esta associação ong ambiental.

A expansão descontrolada das acácias, uma vez que se espalham facilmente afectando a produção florestal, veio provocar a destruição de muito das nossas florestas autóctones e levando a irremediáveis perdas de biodiversidade e de produtividade. “Não prejudicam apenas vegetação nativa, mas afectam também todas as espécies de fauna que dependem destas plantas para a sua alimentação”, alerta a Quercus em comunicado.

As acácias australianas, principalmente a acácia-mimosa ou mimosa (Acácia dealbata), a acácia-de-espigas (Acacia longifolia) e a acácia-austrália (Acacia melanoxylon) ocupam já uma área que se estima entre os 30 mil e os 60 mil hectares.

As acácias estão a ser uma séria ameaça em diversas áreas protegidas. A mimosa é uma das invasoras, ou exóticas, mais preocupantes em todo o mundo, ocupando por exemplo, cerca de  um milhar de hectares no Parque Nacional da Peneda-Gerês, segundo os últimos dados conhecidos.

Que medidas tomar então para controlar esta espécie invasora nas nossas florestas? Para a Quercus, a resposta passa pela erradicação dos novos focos de invasão e, acima de tudo, controlar para eliminação das populações de invasoras já estabelecidas.

Mas há mais medidas a tomar, dizem os ambientalistas em parceria com a ANESF – Associação Nacional dos Engenheiros e Técnicos do Sector Florestal: implementar um plano de emergência para evitar a infestação por acácias das áreas ardidas em 2017, em particular no Pinhal de Leiria, áreas protegidas e áreas comunitárias sob gestão do Estado. Elaborar planos de acção para eliminação a curto prazo das acácias das áreas protegidas, parques e reservas, bem com um plano de acção para travar a expansão das acácias ao longo da rede rodoviária, estão entre as medidas tidas fundamentais no combate aos incêndios florestais.

Foto: André Luiz M F / flickr 





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