Algumas aranhas têm mordeduras venenosas. Estas têm um “vómito” fatal

O veneno é uma das armas mais potentes que evoluíram na Natureza para dar aos animais uma vantagem na luta pela sobrevivência, para ganharem vantagem sobre os rivais, para capturarem presas ou para evitarem tornarem-se uma.
Essa adaptação pode ser encontrada um pouco por todos os grupos da árvore da vida, desde os invertebrados aos mamíferos (como os lorisídeos e os ornitorrincos). As aranhas são exímias utilizadoras de veneno para capturarem as suas presas. Usam-no, sobretudo, para paralisar as suas capturas, depois de as aprisionarem em redes de seda de produção própria.
Por norma, as aranhas venenosas têm um aparelho especializado, constituído por glândulas que contêm as toxinas, na forma de uma mistura letal de proteínas e péptidos. O veneno é injetado no local onde as quelíceras das aranhas, que terminam em ganchos inoculadores, agarram as presas.
No entanto, um grupo de aranhas parece ter perdido a capacidade para injetar o veneno diretamente no corpo das suas vítimas, desenvolvendo, ao invés, um “vómito” fatal.
Uma investigação liderada por cientistas da Universidade de Lausanne (Suíça) sugere que as aranhas da família Uloboridae podem ter deixado de ter glândulas venenosas funcionais. No local onde seria esperado encontrá-las, os investigadores detetaram conjuntos de músculos.
Já se sabia que as aranhas Uloboridae capturavam as suas presas envolvendo-as em vários metros de seda e regurgitando fluidos digestivos sobre elas, algo que parece ser letal. Por isso, a equipa lançou-se numa demanda científica para perceber se essas aranhas trocaram a capacidade para injetar veneno por fluidos digestivos que, ainda assim, podem conter componentes tóxicos.
Depois de terem encontrado componentes semelhantes a veneno no sistema digestivo de espécimes de Uloboridae, levantando a hipótese se poderem ajudar as aranhas a neutralizarem as suas presas. Em experiência laboratoriais, confirmaram que os sucos digestivos da espécie Uloborus plumipes, na verdade, eram capazes de matar presas como moscas.
Por isso, argumentam que, apesar de terem perdido o seu veneno, as Uloboridae “não perderam a sua toxicidade”, fazendo desse grupo aracnídeo “uma exceção notável”, uma vez que “quase todas as aranhas injetam veneno”.
Ao longo da sua história evolutiva, as Uloboridae mantiveram as suas toxinas, mas readaptaram-nas para serem usadas como “vómito tóxico” ao invés de veneno. Num artigo publicado recentemente na revista‘BMC Biology’, os investigadores escrevem que os resultados mostram que “as toxinas das aranhas não estão exclusivamente confinadas a glândulas secretoras de veneno, mas desempenham também um papel no sistema digestivo”.
“Isto suporta uma ligação evolucionária entre os dois sistemas, sugerindo que as toxinas podem ter inicialmente servido funções digestivas antes de serem cooptadas para a utilização em venenos”, consideram.