Áreas protegidas ameaçadas pela exploração de combustíveis fósseis. E Europa não é exceção



As áreas protegidas são, como o nome indica, áreas geograficamente delimitadas em terra ou no mar que têm como objetivo salvaguardar um determinado habitat, paisagem ou espécie ou conjunto de espécies, através de medidas de conservação e gestão.

De grande importância para a proteção da biodiversidade, essas zonas, poderíamos pensar, estariam livres do assalto por parte das grandes empresas de exploração combustíveis fósseis. Talvez sim, mas a realidade, afinal, é outra.

De acordo com uma análise publicada esta quinta-feira pela organização não-governamental do ambiente Leave It In The Ground (LINGO), em parceria com a Oil Change International, foram identificadas 2.933 atividades relacionadas com a exploração de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) em 835 áreas protegidas em 91 países. Das empresas associadas à exploração de combustíveis fósseis em áreas protegidas, a investigação destaca como principais a Santos, a Perenco, a Shell, a PGNiG, a TotalEnergies, a Rosneft, a Neptune Energy, a Spirit Energy e aWintershall Dea

A LINGO estima que se forem exploradas totalmente, essas zonas têm o potencial para lançar na atmosfera mais 47,5 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono.

No topo da lista dos 14 países com o maior número dessas operações a ocorrerem em áreas protegidas está a China, seguida pela Venezuela, pela Arábia Saudita, pelo Cazaquistão e pela Alemanha, o único país da União Europeia (UE) que aí consta, com 108 operações de petróleo e gás e uma de carvão em áreas protegidas.

Contudo, a análise, que resultou num mapa interativo que mostra a sobreposição entre as áreas protegidas e operações ligadas à energia fóssil em todo o mundo, revela que na região europeia, também Espanha, França, Itália, Países Baixos, Polónia e Reino Unido têm ativas explorações de combustíveis fósseis nessas zonas legalmente protegidas.

A exploração de combustíveis fósseis em áreas protegidas mais perto da costa portuguesa situa-se em Espanha, no Golfo de Cádis, a poucos quilómetros dos limites do Parque Nacional de Doñana.

Diz a LINGO que embora as metas assumidas pelos vários países para combater a crises da biodiversidade e do clima devessem tornar esse tipo de atividade impensáveis em áreas dedicadas à conservação da natureza, “a realidade conta uma história diferente”.

“Adicionalmente, as áreas protegidas são também ameaçadas por atividades ligadas aos combustíveis fósseis que acontecem fora das suas fronteiras, como derramamentos de petróleo e desastres de mineração que espalham poluição ao longo de muitos quilómetros”, escrevem os autores.

É estimado que manter no solo os combustíveis fósseis localizados em áreas protegidas permitiria evitar prejuízos de cerca de 18 biliões de euros provocados por desastres climáticos e “salvar 10,7 milhões de vidas de pessoas em risco de morte devido ao stress associado ao calor”, fruto do efeito de estufa causado pelas emissões de gases poluentes, como o dióxido de carbono resultante da queima de combustíveis fósseis.





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