Bhopal: o desastre industrial de que ninguém fala completa 30 anos
Na madrugada de 3 de Dezembro de 1984, 40 toneladas de gases tóxicos vazaram da fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide, em Bhopal, no centro da Índia. Mais de meio milhão de pessoas, muitos deles trabalhadores da fábrica, foram expostas aos gases, mas ninguém sabe quantas terão morrido – estima-se que cerca de 25 mil, muitas dentro das suas casas.
A comparação do Chernobyl é óbvia, mas existe uma grande diferença entre os dois desastres. Enquanto a tragédia ucraniana foi amplamente falada e noticiada, Bhopal permaneceu na semi-obscuridade até aos nossos dias, ainda que seja considerado o pior desastre industrial ocorrido até hoje.
No dia do desastre, os responsáveis da Union Carbide abandonaram a fábrica sem revelarem qual a substância responsável pelo vazamento, o que dificultou a tarefa de salvar vidas. Só mais tarde se soube que 500 mil pessoas tinham sido expostas a 42 toneladas de isocianato de metila, um gás que, quando respirado, provoca uma morte lenta e dolorosa.
A nuvem de gás espalhou-se rapidamente pelos bairros próximos da fábrica, entrando nas casas das pessoas pelas janelas e portas. Quem não morreu ficou com problemas de saúde: danos de visão, diabetes, dores nas articulações, problemas respiratórios, renais ou cardíacos.
“[Ainda hoje] existe anemia, menstruação atrasada em adolescentes, problemas dolorosos de pele. E muitas pessoas com defeitos de nascença”, explicou à Reuters Satinath Sarangi, da Bhopal Medical Appeal. “As crianças nascem com membros tortos, danos cerebrais, desordens musculares e esqueletais. Uma em cada quatro ou cinco casas tem alguém assim”.
Em 2001, a empresa Dow Chemicals comprou a Union Carbide e ficou com o seu passivo ambiental, mas negou a sua responsabilidade pelo cenário que tornou Bhopal numa cidade doente. Segundo a Reuters, nenhum julgamento chegou a ser celebrado em território indiano.
Hoje, a fábrica da Union Carbide permanece abandonada em Bhopal, mas os seus resíduos perigosos e materiais contaminados ainda estão espalhados pela área, contaminando solos e águas subterrâneas.
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