Biodiversidade da ilha da Madeira debaixo de fogo



O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e através do Pico Ruivo e Santana. Segundo a informação disponibilizada pelo Serviço de Gestão de Emergências do Programa Copernicus, da União Europeia, que monitoriza, através de imagens de satélite, as zonas ardidas na região da Madeira nos últimos sete dias, bem como os incêndios que se encontram ativos na área, já arderam 5.749 hectares.

No entanto, o Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) em entrevista ao Público apontou para cerca de 8.000 hectares, principalmente nas vertentes Sul da ilha.

Elsa Araújo, Presidente do Núcleo da Quercus da Madeira, em declarações à Green Savers lamenta a negligência do Governo Regional na proteção do património natural que está a ser destruído. “A Madeira tem a área de Laurissilva mais bem preservada do Mundo. São 15 mil hectares, únicos”.

Na opinião da ambientalista este incêndio foi tratado de forma negligente, começando desde logo pela recusa de ajuda do Governo Nacional quando este deflagrou.

“Quando o fogo começou a avançar para áreas inacessíveis era previsto que não tínhamos os meios necessários para lhe fazer frente. Só com meios aéreos se consegue aceder alguns dos locais, caso do Pico Ruivo, a montanha mais alta da Madeira”, diz, lamentando também a falta de prevenção, uma vez que não existem, por exemplo, faixas de proteção em torno das áreas protegidas. “Não aprendemos com os erros do passado. Já não é a primeira vez que enfrentamos um incêndio desta dimensão”.

Na primeira semana de agosto de 2016, o “inferno” também revestiu as encostas da ilha da Madeira, desalojando mais de mil pessoas e queimando uma área da floresta Laurissilva. A orografia da Madeira aliada a vento e a temperaturas elevadas pode ser um fósforo pronto a atear.

Isto não é uma situação inédita, pelo contrário, “a história repete-se e mais uma vez não estávamos preparados para proteger o nosso património natural”, diz, apreensiva, avançando ainda que a Proteção Civil da Madeira tem de estar preparada para estas situações.

A ambientalista teme que se tenham extinguido algumas espécies únicas no mundo. As circunscritas às zonas compreendidas entre o Pico do Arieiro e o Pico Ruivo.

Se por um lado, a inacessibilidade ao local ajudou aquela floresta nativa a sobreviver intacta até agora, uma vez que não sofreu com a intervenção humana, seja via agricultura ou construção, a verdade é que esta inacessibilidade pode também ter sido a sua desgraça, uma vez que só por meios aéreos poderiam ser salvas das chamas. “Se desapareceram daqui, desapareceram do mundo”, lamenta a presidente da Quercus.

Outra preocupação da Quercus é a festa da queima dos Fachos no concelho de Machico, que está agendada para o dia 24 de agosto. Uma tradição secular que está integrada na festa religiosa do Santíssimo Sacramento.

“É uma tradição, da queima de material pirotécnico aqui na ilha que, no fundo é uma ilegalidade uma vez que utilizam óleos usados e desperdícios de oficinas de automóveis”.

Elsa Araújo relembra ainda que o vale de Machico, tal como muitas outras áreas da ilha possuem terrenos incultos ocupados por mato e encostas repletas de plantas invasoras, tais como eucalipto e acácias, uma espécie de barril de pólvora.

A Quercus apela à PSP que não autorize a queima do fogo e que sejam mais rigorosos, não emitindo licenças, além de que é fundamental que exercem um maior controlo”. Até porque são necessários bombeiros que têm estado a combater os incêndios e neste evento são também eles que têm de estar de prevenção, quando pode haver reacendimentos em outras zonas da ilha.

A responsável projeta ainda problemas mais à frente. As derrocadas. “Quando vierem as chuvas, com a área ardida a água não se infiltra, originando as escorrências, arrastando tudo o que encontra pelo caminho e por ser uma zona muito acidentada a agravante é ainda maior”, diz, aproveitando para alertar que este terá de ser um assunto a analisar após o fogo estar extinto para minimizar o impacto.

Se quiser ver qual a área ardida na Madeira, clique no site da Copérnico

 





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