Cães-da-pradaria podem ajudar a mitigar o risco de incêndio nos EUA

Com o avanço aparentemente imparável das alterações climáticas, são esperados fogos mais intensos e mais frequentes nas florestas e zonas rurais. Parte da solução pode passar pela aposta em tecnologias de vigilância e de gestão, na revisão de políticas e ordenamento do território e na mudança da forma como olhamos para o mundo natural e para a nossa relação com ele.
Um grupo de cientistas diz agora que outra parte pode estar mesmo na Natureza e nos animais não-humanos que fazem parte dos ecossistemas.
Num estudo publicado recentemente na revista ‘BioScience’, investigadores dos Estados Unidos da América (EUA), liderados pela Universidade do Arizona, sugerem que os cães-da-pradaria-de-cauda-preta (Cynomys ludovicianus) podem desempenhar um papel na prevenção e gestão dos incêndios na região norte-americana das Grandes Planícies, que atravessam esse país praticamente a meio, das fronteiras dos estados do Montana e da Dakota do Norte com o Canadá, a norte, até à fronteira do Texas com o México, a sul.
Courtney Duchardt, primeira autora do estudo, diz que esses pequenos roedores herbívoros ajudam a controlar o crescimento de vegetação que, sem a sua ação, provavelmente cresceriam demasiado até se transformarem no que se designa por “combustível”, aumentando o risco e a intensidade de eventuais incêndios.
Segundo a cientista, os cães-da-pradaria aparam e mantêm curta a vegetação para que possam mais facilmente avistar predadores que possam estar à espreita, de tal forma que, a longo-prazo, isso “leva a uma mudança nos tipos de vegetação que cresce”.
Em comunicado, Duchardt explica que, devido à herbivoria, assiste-se à transição de paisagens com ervas densas e altas para áreas de vegetação mais rasteira, com mais flores e com mais solo “despido” que, sustenta a investigadora, pode ajudar a travar o avanço das chamas. Por isso, conclui que as colónias de cães-da-pradaria transformam os habitats e alteram, dessa forma, o comportamento dos incêndios.
“Embora haja conflitos reais no que toca à gestão dos cães-da-pradaria, esta espécie e muitas outras espécies de animais selvagens podem estar a fornecer serviços de ecossistema que realmente ainda não quantificámos”, afirma.
Duchardt aponta também que esses animais são também nativos do sudoeste do estado norte-americano do Arizona, onde já se documentou que ajudam a controlar as populações vegetais, provavelmente contribuindo para a mitigação do risco de incêndios.
Os investigadores defendem a necessidade de mais investigação científica e de incluir a atividade dos cães-da-pradaria nos modelos que preveem o comportamento de incêndios. Dessa forma, advogam, os gestores do território poderão desenvolver “estratégias mais eficazes para a prevenção e mitigação de incêndios, particularmente em ecossistemas de pradaria vulneráveis”.