Cães negligenciados tornam-se mais agressivos e receosos na idade adulta

Um estudo recente publicado na revista Scientific Reports revela que cães que sofreram negligência na infância têm maior probabilidade de desenvolver comportamentos agressivos e receosos na idade adulta. A investigação indica ainda que algumas raças apresentam uma maior sensibilidade a estas experiências adversas, sugerindo que fatores genéticos podem influenciar a forma como os cães reagem à negligência.
A investigação, que envolveu 4.497 cães de 211 raças diferentes e os seus tutores de países de língua inglesa, foi conduzida por Julia Espinosa e colegas entre outubro de 2022 e julho de 2024. Utilizando o questionário Canine Behaviour Assessment and Research Questionnaire (C-BARQ), os donos responderam sobre as reações dos seus cães a 45 estímulos comuns que podem provocar comportamentos agressivos ou receosos, como ruídos súbitos e estranhos que se aproximam da porta de casa.
Um terço dos cães inquiridos tinha vivido situações adversas durante os primeiros seis meses de vida, como trauma, abuso ou comportamentos negativos. Estes cães demonstraram níveis significativamente mais elevados de agressividade e medo na idade adulta comparativamente aos que não passaram por tais experiências. O impacto da adversidade precoce revelou-se tão importante, ou mesmo mais, do que fatores como sexo, idade e esterilização.
Os resultados também mostraram diferenças entre raças: enquanto cães da raça American Eskimo Dog revelaram maior sensibilidade às experiências adversas, outras raças como os Labrador Retrievers aparentaram ser menos afetadas, apresentando níveis semelhantes de medo e agressividade independentemente das experiências vividas.
Este estudo reforça a ideia de que as experiências negativas na infância podem ter consequências psicológicas duradouras nos cães, tal como acontece nos seres humanos. Os autores reconhecem, contudo, que a investigação dependeu das observações dos donos, e sugerem que futuros estudos poderão ajudar a desenvolver estratégias específicas de reabilitação e orientar decisões sobre adoção de cães mais vulneráveis.