Cartões-postais e fezes: Novo método de recolha de ADN abre todo um novo mundo sobre os elefantes



A sequenciação genómica é uma técnica essencial para os cientistas perceberem a composição genética dos animais selvagens que estudam, o que comem, os seres microscópicos que habitam nos seus organismos.

Até agora, a recolha de amostras de ADN tem sido sobretudo feita através de abordagens invasivas, que envolvem a sedação dos animais com dardos, a sua captura ou a sua imobilização. Mas uma equipa de cientistas dos Estados Unidos, dos Países Baixos e de África do Sul criaram um novo método que permite recolher amostras genéticas sem perturbar os animais. A resposta? Pequenos cartões do tamanho de postais que preservam o material genético.

Cartões criados para recolha de amostras de ADN presentes em matéria fecal de animais selvagens, sem ser preciso recolher amostras de sangue.
Crédito: Fred Zwicky / Universidade do Illinois

Pode parecer coisa pouca, mas os especialistas dizem que este novo método, além de evitar causar stress nos animais e de minimizar os riscos para a segurança de quem faz a recolha, é mais barato do que as técnicas habituais e fornece resultados igualmente fidedignos, e com muito mais informação.

Para desenvolver a nova técnica, escolheram o elefante, ou melhor, as suas fezes. Esse subproduto da atividade metabólica dos organismos há décadas que é usado para obter ADN, mas Alfred Roca, professor de ciências animais da Universidade do Illinois e um dos autores do artigo que revela a descoberta, explica que os métodos usados são muito complexos e que o transporte das amostras é complicado, pois têm de ser refrigeradas para que o ADN não se deteriore. E tudo isso envolve grandes custos.

Por isso, a equipa desenvolveu pequenos cartões do tamanho de postais (daqueles que enviamos aos amigos e família durante as épocas festivas ou quando estamos de férias no estrangeiro) que estão impregnados de substâncias que impedem que o material genético seja destruído. As experiências que fizeram mostraram que as amostras colocadas nos cartões “podem ser armazenadas durante meses sem refrigeração”, explicam.

As experiências feitas com fezes recolhidas de elefantes em zoológicos permitiram perceber que mesmo três dias após a defecação era possível extrair ADN. Depois, em parceria com cientistas da Universidade de Pretória, na África do Sul, a equipa confirmou o método, e as análises ao material recolhido revelaram mais do ADN de elefante.

Elefantes da savana africana.
Crédito: Rudi van Aarde / Universidade do Illinois

Além de as fezes recolhidas nos cartões conterem mais de 12% de material genético desses grandes mamíferos, quando os cientistas pensavam apenas encontrar 2%, conseguiram identificar os micróbios que residem nos intestinos dos elefantes, bem como os seus hábitos alimentares e o seu estado de saúde. Tudo isso sem ser preciso sedar os animais para recolher amostras de sangue.

Com as amostras recolhidas nos cartões, “podemos explorar a conectividade entre as diferentes populações de elefantes, o nível de diversidade genética, o nível de endogamia e os laços de sangue entre os elefantes”, detalha Roca. A isso Alida de Flamingh, outra das investigadoras, acrescenta que com as fezes “podemos fazer as análises que não podíamos fazer antes com o ADN no sangue, que apenas dava informação sobre o genoma do elefante”.





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