Cátedra REN em biodiversidade: o poder do conhecimento na preservação do meio ambiente



O I Simpósio da Cátedra REN em Biodiversidade, uma iniciativa da REN em parceria o CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto) e a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), reuniu cerca de duas centenas de investigadores e técnicos de empresas, administração e academia, numa sessão onde foram destacados os resultados alcançados no último ano e meio. O principal enfoque esteve centrado na pertinência da relação Universidade-Empresa, assim como na produção de conhecimento científico aplicado e na oportunidade de formação e valorização dos recursos humanos, através da investigação e formação avançadas.

Entre as conclusões apresentadas consta a avaliação e monitorização do impacto das redes de transporte de energia sobre a biodiversidade, com particular atenção para a acção no habitat de espécies como as cegonhas, sobretudo ao nível da demografia. “A REN é uma das principais produtoras de estudos ambientais, sobretudo no impacto das linhas de Alta e de Muito Alta Tensão. Recolhemos uma grande quantidade de informação e é nosso objectivo partilhar este conhecimento com as autoridades, com os parceiros e com a comunidade” explica Francisco Parada, responsável pela qualidade e segurança ambiental da REN, que salienta a importância da cidadania na ciência.

Célia Ramos, Secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, sublinha três pontos desta iniciativa: a aposta no conhecimento, a articulação entre a Academia e as empresas em benefício da conservação da natureza e o apelo ao exercício da cidadania. “Em conjunto, temos de ultrapassar as lacunas do conhecimento e estabelecer mecanismos de monitorização úteis para a gestão, que permitam uma avaliação mais regular do estado de conservação da natureza. As empresas podem ter um papel muito importante no alavancar do conhecimento científico. Torna-se cada vez mais claro que o cidadão pode dar um contributo a este processo. Todos nós podemos ser individualmente fornecedores de dados”, defende a Secretária de Estado que deixa uma sugestão relativa ao universo das aves: “Que interessante seria criar um mecanismo que fosse capaz de registar observações dos birdwatchers que nos visitam”.

Actualmente, 25 porcento das cegonhas fazem os seus ninhos nos postes de Alta ou Muito Alta Tensão. Com estes dados, a Cátedra REN já conseguiu definir uma estratégia ao nível dos mecanismos anticolisão entre pássaros e linhas de energia resultando que, hoje, a taxa de natalidade das cegonhas que nidificam nas torres de energia é já muito superior à taxa de mortalidade por colisão.

“Minimizar é o primeiro componente para fazer a compensação ambiental. A nossa experiência nessa área diz-nos que nós trilhamos dois caminhos ao mesmo tempo: aplicamos diariamente o princípio da precaução, porque somos nós que determinamos e que condicionamos, e também aplicamos medidas compensatórias”, identifica Fernando Moreira, o investigador da Cátedra REN. O especialista em biodiversidade adianta que o maior problema pode ser “a falta de tempo ou de dados para poder agir sobre um problema”. Mas não só. Outra questão com a qual se debatem, e sobre a qual é ainda preciso reflectir, é a falta de “soluções de sustentabilidade”.

O I Simpósio da Cátedra REN em Biodiversidade contou ainda com o debate “Os desafios actuais na investigação e avaliação de impacto das linhas eléctricas na biodiversidade”, onde Armando Loureiro, director do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Norte, reiterou que, do ponto de vista operacional, “a grande quantidade de dados” a que têm acesso sobre preservação ambiental “só faz sentido se for analisada”. Salientou também que a cooperação entre Academias e Empresas é bem vista pelo ICNF já que pode contribuir para um esclarecimento e processo de decisão política melhor e mais célere: “Do ponto de vista do planeamento, a participação dos diferentes stakeholders é muito importante e há conhecimento científico que pode ser aplicado para a promoção dessa participação e processos de decisão participada que podem utilizar a informação e a experiência científica na área da sociologia, mas a ciência não pode substituir a intervenção política.”

Também presente na Cátedra REN esteve Joseph Kiesecker, cientista sénior da The Nature Conservancy, que na palestra “Soluções de distribuição de energia: Equilíbrio entre Conservação e Desenvolvimento Global” explicou soluções, estratégias e técnicas que podem salvaguardar a preservação da biodiversidade. Casos por ele estudados, em países como a Mongólia e o Brasil, estiveram em destaque para demonstrar que proteger o ambiente se baseia em quatro pilares: antever os impactos, pensar a terra como um todo, ter um conjunto de medidas quantificadas e justificadas que previnam a perda da biodiversidade e, por fim, ter objectivos de desenvolvimento.

Na sua intervenção, o cientista elogiou o trabalho da Cátedra, que considera ser inovador. “É um importante passo na direcção certa, mas tem de ser uma experiência mais frequente. Nos EUA temos imensas parcerias entre as universidades e as empresas, mas na área da tecnologia, não do ambiente. Esta é uma abordagem bastante à frente”, afirma, deixando claro que a iniciativa devia continuar.

Fundada em 2016, a Cátedra REN em Biodiversidade tem como objectivo criar uma rede inovadora e integrada de pesquisa, transferência de conhecimento, investigação e divulgação científica nos diferentes domínios da biodiversidade, contribuindo para a sua preservação.

Foto: Ren 





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...