Cianobactérias marinhas podem ser solução “de origem natural, sustentável e vegan” para tratar problemas de pele



Uma investigação liderada por Janaina Morone, estudante do Programa Doutoral em Biotecnologia Marinha e Aquacultura da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, revela que os extratos ricos em carotenoides de cianobactérias marinhas contêm fortes propriedades anti-inflamatórias para a pele.

Em comunicado, a instituição aponta que esses componentes podem ter “aplicações dermatológicas e cosméticas de origem natural, sustentável e vegan”.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘Algal Research’, Morone e outros setes investigadores, da Universidade do Porto e do Instituto Politécnico do Porto, demonstram que os carotenoides das cianobactérias são eficazes na redução da resposta inflamatória, destacando o que dizem ser “o elevado valor para aplicação biotecnológica de extratos de cianobactérias ricos em carotenoides na indústria farmacêutica e cosmética”.

A equipa explica que, como “o controlo do processo inflamatório da pele é um desafio crescente para a indústria cosmética que procura responder às necessidades de saúde e bem-estar assim como a questões estéticas e de autoestima, cada vez mais importantes na sociedade”, a comunidade científica tem procurado ingredientes alternativos, “de origem natural, inovadores e ao mesmo tempo sustentáveis”.

Janaina Morone detalha, em nota, que as cianobactérias são um “biorrecurso” que cumpre todos os requisitos procurados de inovação, eficácia, origem natural e sustentabilidade, acrescentando que foi precisamente isso que motivou a equipa de cientistas “a explorar a sua capacidade de atuar na área da inflamação”.

Os resultados agora apresentados tiverem por base o estudo de diferentes estirpes de cianobactérias com origem no arquipélago de Cabo Verde, que não são produtoras de toxinas, e as suas aplicações na cosmética.

A investigação revelou que estas cianobactérias “apresentam um perfil de carotenoides muito caraterístico, dominado pelas já conhecidas zeaxantina e pelo β-caroteno, que conferem aos seus extratos a capacidade de modular o processo inflamatório a dois níveis: na resolução e na prevenção da inflamação”, explicam os autores.

Por isso, para além de ser possível “resolver um estado de inflamação já instalado através do sequestro de radicais livres e da inibição de enzimas responsáveis pela produção de mediadores inflamatórios, estes compostos são capazes de atuar na origem do problema, inibindo a expressão de enzimas responsáveis pela produção de óxido nítrico, um mediador chave no processo inflamatório”, acrescentam.

Graciliana Lopes, investigadora do CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto e coautora do artigo, salienta que “as cianobactérias de origem marinha do arquipélago de Cabo Verde avaliadas neste estudo são produtoras de pigmentos com atividade anti-inflamatória, com grande potencial para utilização em diversas afeções cosméticas onde existe um quadro inflamatório associado, como é o caso da rosácea, acne inflamatório e diferentes tipos de dermatites”.

Descrevem estas cianobactérias como “refinarias verdes” capazes de produzirem “uma imensidão de compostos com aplicações biotecnológicas de elevado interesse”, os cientistas acreditam que a investigação permitirá compreender melhor o “mecanismo de ação destes extratos em organismos modelo”, bem como avaliar a “sua estabilidade quando incorporados numa formulação, o que poderá alargar o seu leque de aplicações, tanto a nível cosmético como farmacológico”.

Para Graciliana Lopes, “os recursos marinhos são atualmente a melhor resposta para a crescente procura de moléculas inovadoras e de ingredientes naturais com aplicação nas diferentes áreas da saúde e bem-estar”. A investigadora reconhece ainda que “é a biotecnologia marinha que nos permite explorar e utilizar esses recursos de forma sustentável para dar origem a produtos inovadores que respondam às necessidades de uma população cada vez mais atenta à qualidade de vida e sustentabilidade e em constante crescimento”.

E deixa uma mensagem inequívoca: “O futuro é Azul!”.





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