Cientistas do Museu de História Natural de Londres descobrem 351 novas espécies em 2022



Com o ano a chegar ao fim, o Museu de História Natural de Londres, um dos mais célebres do mundo, fez as contas e revelou esta sexta-feira que os seus curadores e investigadores descreveram e nomearam 351 novas espécies que, em 2021, eram desconhecidas da Ciência.

Aludindo ao acordo global para a conservação e recuperação da biodiversidade adotado este mês por quase 200 países de todo o mundo na COP15, o museu diz, em comunicado, que só podemos proteger aquilo que conhecemos e que, por isso, quanto mais soubermos acerca do mundo que nos rodeia, melhor poderemos escudá-lo das ofensivas destrutivas lançadas contra ele por parte da população humana e dos efeitos das mudanças causadas por essas ações.

As descobertas resultaram de trabalho de campo e também da revisitação de espécimes que já tinham sido recolhidos anteriormente, mas que ainda não tinham sido devidamente, nem cientificamente, identificados.

A maioria das novas espécies descritas em 2022 foram invertebrados, o grupo de animais mais vasto de todos, pelo que, diz o Museu, isso “não é surpreendente”.

Nesse conjunto de descobertas incluem-se 84 espécies de escaravelhos, 34 de borboletas noturnas, 23 de briozoários (minúsculos moluscos aquáticos semelhantes a pólipos) e 13 de vermes trematódeos. Foram também descritas 12 novas espécies de protistas, sete novas espécies de moscas, duas de abelhões da Ásia, duas de poliquetas (da classe dos anelídeos) que vivem nas profundezas dos oceanos e uma centopeia que nunca antes tinha sido observada por cientistas.

Descobertas 84 novas espécies de escaravelhos, incluindo o grande Autocrates lini, nas montanhas de Dayaoshan, na China.
Crédito: Hu, Drumont & Telnov / Museu de História Natural de Londres

Contudo, foi ao grupo das vespas que foram adicionadas mais novas espécies, num total de 85, incluindo vespas parasitoides que, dizem os especialistas, são de grande importância para a agricultura, pois atuam como agentes de controlo de pragas.

Descobertas 85 novas espécies de vespas, incluindo vespas parasitoides, como a Megaphragma.
Crédito: Andrew Polaszek / Museu de História Natural de Londres

Gavin Broad é o curador responsável pelos insetos nesse Museu e especialista no grupo e invertebrados dos Hymenoptera, no qual se inserem as vespas, e explica que “a abundância de vespas parasitoides faz da ordem Hymenoptera a mais rica ordem de insetos em termos de espécies”, embora existam muitas outras espécies que ainda não foram identificadas.

No grupo dos invertebrados, foram também descobertas 19 novas espécies de insetos comummente conhecidos como bicho-pau, da ordem Phasmatodea, e foram todas detetadas nas regiões tropicais da Austrália.

Descobertas 19 novas espécies de bicho-pau na Austrália, incluindo o Candovia wollumbinensis.
Crédito: Paul Brock / Museu de História Natural de Londres

Mas também foram identificadas novas espécies de vertebrados, como uma lagartixa das Seicheles, três espécies de peixes e setes de rãs, das quais seis, descobertas no México, são das mais pequenas do mundo, com apenas oito milímetros de comprimento.

E as novas espécies descobertas não foram apenas de seres vivos atualmente, tendo sido também identificadas três novas espécies de dinossauro. Duas delas, da China, dizem respeito aos chamados dinossauros de armadura, grandes répteis cobertos por duras placas que os protegiam dos ataques dos predadores. Uma dessas espécies é o dinossauro de armadura mais antigo e mais completo alguma vez encontrado, outra é do estegossauro mais antigo de sempre e a terceira é uma nova espécie de carnívoro com braços muito curtos, encontrado no norte da Argentina, um fóssil que se estima que tenha 70 milhões de anos.

Além dos restos empedernidos de répteis monstruosos de tempos idos, foi também identificada uma nova espécie de lagarto com 200 milhões de anos. O fóssil estava algures nos armazéns do museu londrino e ainda não tinha sido devidamente classificado, sendo considerado o lagarto mais antigo que se conhece atualmente.

Ainda no campo da paleontologia, foram descritas oito novas espécies de mamíferos ancestrais, sendo que seis delas são dos primeiros representantes do grupo de animais que continha primatas que se suspeita que sejam parentes muito distantes do moderno Homo sapiens.

Preso em âmbar e encontrado na Ucrânia, foi também descoberto um pequeno escaravelho, Ptilodactyla odnosum, com cerca de 35 milhões de anos. Os seus descendentes modernos são hoje encontrados apenas nas regiões tropicais e subtropicais, pelo que os cientistas sugerem que o clima na Ucrânia foi bastante mais quente do que é hoje.

Nova espécie de escaravelho Ptilodactyla odnosum, com 35 milhões de anos, descoberta preservada em âmbar, na Ucrânia.
Crédito: Telnov et al. / Museu de História Natural de Londres

Para além de animais, em 2022 foram descritas 11 novas espécies de algas até agora desconhecidas do mundo científico, tanto fossilizadas como vivas, incluindo a Lamprothamnium sardoum que habita a ilha de Sardenha, em Itália, e que está coberta de espinhos.

Alga Lamprothamnium sardoum que habita a ilha de Sardenha, em Itália.
Crédito: R. Becker / Museu de História Natural de Londres

“A maioria das plantas tem uma variedade de nomes, alguns específicos de uma área de ou de um grupo, outros mais amplamente difundidos, mas os nomes científicos que cunhamos podem ser usados por qualquer um em qualquer lado”, diz Sandra Knapp, investigadora do Museu de História Natural de Londres.

“Isso significa que há uma língua comum”, assinala, defendendo que isso é essencial para ajudar a travar a perda de biodiversidade, considerada hoje uma crise planetária, falando os cientistas de que hoje decorre uma ‘sexta extinção em massa’, em muito provocada pela ação humana.





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