Como é que os ratos escolhem comer ou beber?



Os investigadores de Stanford investigaram a forma como os ratos resolvem conflitos entre necessidades básicas. Apresentaram aos ratos que tinham fome e sede acesso igual a comida e água e observaram o que acontecia a seguir.

O comportamento dos ratinhos surpreendeu os cientistas. Alguns gravitaram primeiro em direção à água, enquanto outros escolheram a comida. Depois, com períodos de indulgência aparentemente “aleatórios”, trocavam de um lado para o outro.

No estudo, o candidato a doutoramento Ethan Richman, autor principal do artigo, e colegas dos departamentos de Biologia, Psiquiatria e Ciências do Comportamento e Bioengenharia exploraram as razões para tal.

“Os nossos dados indicam que a sede e a fome não atuam como forças diretas no comportamento”, disse Richman, acrescentando que, “em vez disso, modulam o comportamento de forma mais indireta. Estão a influenciar o que consideramos ser o objetivo atual do rato”.

Os investigadores queriam perceber quando e onde é que as escolhas entre comida e água têm origem no cérebro. Utilizando avanços recentes na tecnologia de registo, monitorizaram a atividade de neurónios individuais espalhados pelo cérebro do rato.

“Em vez de um único momento de escolha, o cérebro do rato está constantemente a transmitir o seu objetivo atual”, disse Richman. “Os resultados das escolhas mais difíceis que fazemos – quando as opções estão muito equilibradas em termos de importância, mas as categorias são fundamentalmente diferentes – podem ter a ver com o estado em que o nosso cérebro se encontrava, mesmo antes de a escolha ser apresentada”, adiantou o coautor Karl Deisseroth, sublinhando que “é um resultado interessante e ajuda-nos a compreender melhor aspetos do comportamento humano”.

Os investigadores descobriram que os ratos com fome e com sede fazem frequentemente a mesma escolha repetidamente antes de mudarem de repente. “No modo comer, o rato come e come. No modo de beber, bebe e bebe”, disse o coautor Liqun Luo. “Mas há um aspeto de aleatoriedade que os leva a alternar entre estes dois modos. Desta forma, a longo prazo, satisfazem ambas as necessidades, mesmo que num dado momento estejam a escolher apenas uma.”

Este trabalho estabelece a importância da mudança do estado de base do cérebro quando se trata de tomar decisões. No futuro, os investigadores irão explorar o que dá o tom e porque é que as decisões nem sempre fazem sentido.

As aplicações clínicas deste trabalho no contexto humano são um pouco mais complexas. “Como psiquiatra, penso muitas vezes na forma como tomamos decisões saudáveis (adaptativas) ou prejudiciais (desadaptativas)”, explica Karl Deisseroth. “É muito difícil para a família e para os amigos verem os seus entes queridos agirem contra as suas próprias motivações de sobrevivência. Pode ser útil compreender as escolhas feitas como um reflexo da paisagem dinâmica subjacente do cérebro do doente, afetada pela perturbação mais do que pela vontade consciente do doente.”

Embora este trabalho possa não explicar o comportamento humano, começa a revelar uma estrutura importante para a tomada de decisões. “Esta é uma ciência básica de descoberta que depende de neuro-engenharia bastante avançada, mas no fundo abordamos questões universais que as pessoas pensam e experimentam a toda a hora”, disse Karl Deisseroth. “É emocionante desenvolver e aplicar ferramentas modernas para responder a estas questões muito antigas, profundas e pessoais”, concluiu.

 

 

 

 

 





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