COP28: Soluções baseadas na natureza ajudariam Brasil a atingir meta do Acordo de Paris



Cientistas liderados pela Universidade de Oxford concluíram que, para alcançar sua meta de longo prazo do Acordo de Paris, o Brasil não precisará investir em tecnologias onerosas de emissões negativas se priorizar soluções baseadas na natureza.

Segundo o estudo “Nature-based solutions are critical for putting Brazil on track towards net zero emissions by 2050” (Soluções baseadas na natureza são críticas para colocar o Brasil no caminho certo para emissões líquidas zero até 2050), publicado pela revista académica Global Change Biology, as políticas de uso da terra no Brasil podem ajudar o país a cumprir a sua meta net zero, ou seja, eliminar as emissões de gases com efeito de estufa enquanto aumenta a quantidade de carbono que remove da atmosfera, até 2050.

De acordo com treze autores de oito instituições lideradas pela Universidade de Oxford, as políticas atuais brasileiras, como o Código Florestal, não são suficientes para o país cumprir a sua meta de longo prazo do Acordo de Paris. Entretanto, salientam, as soluções para reverter este quadro são claras.

Soluções baseadas na natureza (SbN), além de significativamente menos custosas, podem mitigar cerca de 80% da meta brasileira de longo prazo no Acordo de Paris. Este número faz o Brasil ter vantagem económica na discussão global, afirmam.

“A conclusão do estudo evidencia que é crucial a implementação de políticas já existentes de conservação no Brasil, mas é preciso mais para alcançar a meta de longo prazo”, diz um comunicado que apresenta os principais pontos do estudo.

Os investigadores avaliaram que a implementação completa do Código Florestal pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em apenas 38% em 2050.

“Entretanto, com mais investimentos e esforços em soluções baseadas na natureza, como a eliminação do desflorestamento ilegal e legal, o Brasil garantiria uma situação de benefícios múltiplos: alcançaria as metas do Acordo de Paris, incluindo a meta net zero, mitigaria as mudanças climáticas com eficácia, e não precisaria de soluções de engenharia onerosas, como bioenergia com captura e armazenamento de carbono, pelos próximos vinte anos”, acrescentaram.

Outra consequência benéfica do investimento em soluções baseadas na natureza é a manutenção e provisão dos recursos naturais fornecidos pela biodiversidade, base para movimentar a economia local.

A principal autora do estudo, Aline Soterroni (The Agile Initiative, Universidade de Oxford), frisou que “o controlo do desflorestamento e a restauração da vegetação nativa estão prontos para serem implementados imediatamente a um custo relativamente baixo quando comparados a soluções de engenharia como bioenergia com captura e armazenamento de carbono”.

“Isso dá ao Brasil uma vantagem comparativa sobre outros países. É também uma situação de múltipla vantagem porque a implementação cuidadosa de soluções baseadas na natureza ajuda a mitigar e a se adaptar às mudanças climáticas, a reduzir a perda de biodiversidade e a apoiar a economia,” completou.

Já Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético (PPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coautor do estudo, defendeu que soluções baseadas na natureza, principalmente a eliminação do desflorestamento e a restauração da vegetação nativa, são o caminho a percorrer neste sentido, “uma vez que a implantação de tecnologias de emissões negativas será demasiado dispendiosa e, mais importante, demasiado arriscada, uma vez que não foi comprovado ainda que estas tecnologias funcionam em larga escala”.

Apesar da atualização oficial recente da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, sobre metas para eliminar o desflorestamento, o Brasil ainda não apresentou um plano detalhado para se tornar um país que não emite gases de efeito estufa e que consegue capturar carbono na atmosfera no longo prazo.

Deste modo, os cientistas apelam para que soluções baseadas na natureza sejam representadas de forma global nos compromissos climáticos brasileiros, incluindo a meta net zero.

Nathalie Seddon, professora de Biodiversidade e diretora fundadora da Agile e Nature-based Solutions Initiatives, comentou que “há uma lacuna política entre a atual ambição climática e a implementação da política climática no Brasil, impulsionada pela conversão de ecossistemas nativos ricos em carbono e biodiversos”.

“O Brasil abriga cerca de 20% das espécies do mundo, portanto a conversão contínua dos ecossistemas ameaça a integridade de toda a biosfera. É muito importante apoiar o Brasil nos seus esforços para fortalecer, aplicar e ir além das leis existentes para eliminar o desflorestamento ilegal e legal”, concluiu.





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