Crime ambiental: Mais de 400.000 aves canoras mortas ilegalmente no Chipre



Entre setembro e outubro do ano passado, cerca de 435 mil aves canoras, incluindo espécies migradores e ameaçadas de extinção, foram ilegalmente capturadas em mortas no Chipre.

Um conjunto de organizações conservacionistas, incluindo a Sociedade Real para a Proteção da Aves (RSPB) e a BirdLife Cyprus, revelam, num relatório divulgado este mês, um aumento significativo dessas práticas ilegais na ilha mediterrânica. Em 2022, registaram-se 345 mil aves canoras capturadas e mortas. A captura de aves canoras para consumo humano foi banida no Chipre em 1974, mas a prática continua em força.

A RSPB diz que o aumento “é alimentado pelo crime organizado”, grupos que usam redes escondidas e ramos cobertos de substâncias adesivas para capturarem as aves, que são depois mortas. Segundo as organizações, os animais serão usados para a confeção de um prato tradicional cipriota conhecido como ‘ambelopoulia’, e pedem mais força às autoridades do país para responsabilizar os restaurantes que servem esse prato, considerado ilegal, para estancar a procura e, eventualmente, acabar com esse mercado negro.

Entre as práticas descritas no relatório, estão o uso de colunas que emitem sons para atrair as aves até a rede muitos finas e difíceis de ver, como as que são usadas por biólogos para capturar aves e anilhá-las.

Exemplo de uma rede, colocada num pomar no Chipre, para capturar ilegalmente aves canoras.
Fonte: Relatório

Embora o uso de redes para capturar aves canoras pareça ter diminuído entre 2022 e 2023 na República do Chipre, as organizações alertam para um aumento da atividade por parte de vários grupos organizados de caçadores, “que basicamente continuam a capturar pássaros a uma grande escala”. O comércio ilegal de aves canoras no Chipre está avaliado em cerca de 10 milhões de euros por ano.

Durante os esforços de monitorização no terreno, vários membros das organizações foram atacados por membros desses grupos de caçadores ilegais, levando os conservacionistas a questionarem a eficácia das unidades de combate à caça-furtiva da polícia do Chipre.

As organizações criticam ainda uma mudança na lei cipriota, datada de dezembro de 2020, que reduziu de 2.000 euros para 200 euros as multas aplicadas a quem caçasse e matasse até 50 aves canoras usando ramos adesivos, “indiretamente descriminalizando esse método de armadilhagem”, e argumentam que a punição deve voltar a ser elevada para os 2.000 euros pela morte de apenas uma ave canora, independentemente de modo de caça e de espécie.

Se isso não acontecer, avisam, o Chipre pode vir a ser responsabilizado por infringir regras europeias.

O Chipre é um importante local de paragem para as aves migradoras, nas suas longas viagens entre as áreas de alimentação na Europa e as zonas de invernada em África. Por isso, dizem os conservacionistas, combater mais fortemente o mercado ilegal de aves canoras é fundamental para evitar o declínio das espécies, várias delas ameaçadas de extinção.

Comentando o trabalho desenvolvido pela parceria estabelecida entre as duas organizações para travar a captura e morte ilegal de aves canoras no Chipre, Mark Thomas, diretor de investigações da RSPB, diz que, apesar de algumas conquistas, “este outono mostra que ainda é preciso fazer mais, particularmente na República do Chipre”.

Em comunicado, Thomas sublinha que “não podemos permitir que o progresso que temos feito seja desfeito e que os níveis chocantes de mortes de aves canoras voltem aos níveis aberrantes que vimos no passado”.

“Na República do Chipre, precisamos de ver um compromisso renovado do Governo para combater os caçadores organizados que continuam a obter lucros enormes com poucos riscos”, assinala.





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