Currais “reforçados” ajudam a reduzir conflitos entre humanos e predadores



A coexistência entre humanos e predadores não é fácil, especialmente quando os primeiros se dedicam à pecuária, e quando a sua subsistência dela depende.

Os conflitos com os criadores de gado são um dos principais de fatores de ameaça para espécies de grandes carnívoros. A partilha de paisagens entre humanos e esses animais pode resultar na perda de fontes de alimento e de rendimento e também na morte dos predadores, muitas vezes fruto de retaliação por ataques ao gado ou como medida preventiva, para impedir ataques.

Mas um grupo de investigadores acredita ter descoberto uma forma de, pelo menos, atenuar o risco de predação do gado por animais selvagens através do reforço da proteção dos currais, os locais onde animais, como ovelhas, cabras e vacas, são colocados para pernoitar.

Trabalhando com comunidades pastoris na Tanzânia, perto do Parque Nacional Ruaha, que contém importantes populações de leões, leopardos, mabecos, hienas e chitas, os cientistas perceberam que o uso de rede metálica para vedar os currais ajuda a proteger não só o gado nesse recinto, mas também os animais de aldeias próximas.

A investigação, divulgada recentemente na revista ‘Conservation Letters’, foi coordenada pela Universidade Estadual do Colorado (Estados Unidos da América), e sugere que os predadores parecem evitar completamente as aldeias quando alguns currais são construídos com rede metálica, que, segundo os autores, é mais eficaz do que as vedações tradicionais feitas com vegetação.

Os cientistas dizem que se trata de um efeito de “spillover”, em que a proteção reforçada de um curral acaba por reforçar também a proteção dos currais noutras aldeias, mesmo que esses últimos possam não estar protegidos por rede metálica.

“A coexistência entre humanos e carnívoros é um desafio global, e o conflito resultante dos ataques de carnívoros a gado é uma das ameaças mais importantes à coexistência a nível global”, explica, em comunicado, Kevin Crooks, um dos principais autores do artigo.

“Os nossos resultados fornecem provas importantes da eficácia de ferramentas proativas e não-letais para prevenir a predação de gado pelos carnívoros, beneficiando não só as famílias visadas, mas também potencialmente famílias vizinhas”, acrescenta.

O Parque Nacional Ruaha protege cerca de 10% da população mundial de leões, mas as comunidades de que vivem nas imediações do parque têm, todos os anos, uma probabilidade de 30% de perder um ou mais dos seus animais devido aos ataques de predadores, podendo representar perdas significativas de rendimento para criadores de subsistência.

Este estudo mostra que as aldeias vizinhas de comunidades com currais reforçados com rede metálica sofrem menos ataques de predadores ao seu gado, no que os investigadores dizem ser a primeira vez que é documentado um efeito de “spillover” deste tipo.

Para Joseph Francis Kaduma, da organização conservacionista Lion Landscapes e coautor do trabalho, a investigação comprova não só “a eficácia de intervenções antipredação” para reduzir perdas de gado, como também que têm “efeitos de ‘spillover’ positivos”, o que, considera, “promove a coexistência entre humanos e carnívoros”.

“Ao demonstrar como métodos não-letais podem beneficiar tanto as pessoas como a vida selvagem, o estudo oferece soluções práticas que podem ser alargadas a outras regiões em todo o mundo que enfrentam conflitos semelhantes”, sentencia.





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