Design Biofílico e Biodiversidade: quando a Natureza e a Construção se encontram



Por: Elsa Duarte, Arquiteta Paisagística da Savills Portugal

Nos últimos anos, e mais recentemente associado à crise pandémica, os temas da sustentabilidade, biodiversidade e biofilia têm sido reavivados e recorrentemente abordados. No entanto, é notória a falta de uma clara definição do objeto de estudo de cada uma destas áreas de especialidade e do modo como poderão ser parte integrante dos projetos imobiliários.

Se por um lado a biodiversidade se refere à diversidade de todas as espécies vivas na Terra, por outro, a biofilia traduz-se no “amor por todas as coisas vivas”. Esta forte ligação ao meio ambiente tem sido parte integrante da arquitetura, desde as estruturas humanas mais primitivas até às atuais.

O Design Biofílico surge, assim, enquanto disciplina que procura transpor para o espaço construído a afinidade humana pelo espaço natural. Tal poderá materializar-se das mais variadas formas, como através do recurso à utilização de materiais naturais e sustentáveis, texturas, utilização de vegetação natural sempre que possível, mas também de vegetação artificial em ambiente interior; da valorização e utilização da iluminação natural complementada por iluminação artificial confortável; da adoção de sistemas de ventilação natural, sempre que possível; da definição de espaços de estadia confortáveis que convidem ao trabalho em ambiente informal e que potenciem a criatividade; da utilização de mobiliário e elementos estruturais com formas e padrões característicos da natureza; da valorização do sistema de vistas para o exterior e a sua integração no ambiente interior de forma a estabelecer esta ligação direta entre espaço interior e exterior; da criação de sistemas de circulação internos que convidem, à deambulação pelo espaço e promovam a descoberta deste, assim como a criação de um sentido de lugar entre espaço e o utilizador.

O Design Biofílico vem reconhecer a ligação intrínseca entre o ser humano e o ambiente natural, promovendo, desta forma, a melhoria da qualidade de vida de todos aqueles que habitam os espaços construídos. Porém, importa ressalvar que o Design Biofílico e a Biodiversidade são conceitos díspares na sua manifestação prática. Enquanto o primeiro está orientado para o ambiente interior e vem dar resposta à falta de ligação com o ambiente natural, o segundo refere-se ao espaço exterior onde prolifera. Contudo poderão estas duas especialidades integrar o mesmo projeto?

Através do Design Biofílico, é possível ao projetista traçar a ligação entre o espaço exterior e o interior, considerando sempre as condições, condicionantes e potencialidades do espaço construído. E é aqui que importa compreender o que é, de facto, aplicável a cada tipologia de espaço. Impõe-se a questão: o conceito de intervenção contempla os critérios do Design Biofílico e poderá contribuir para a biodiversidade urbana local? Ou cumpre unicamente os critérios-base do Design Biofílico característicos da intervenção no espaço interior de ambientes corporativos? Por que não elevar a fasquia daquilo que é tradicionalmente considerado Design Biofílico e incorporar a temática da biodiversidade? Para tal, importa delinear estratégias de contributo para a biodiversidade local, às quais deverá estar subjacente um estudo prévio sobre a viabilidade desse mesmo contributo e a definição de estratégias tangíveis para a materialização deste objetivo, ainda em projeto.

Assim, desta breve análise sobre Biofilia e Biodiversidade resulta o desafio de elevar estes conceitos em projeto e de extravasar os limites da área de intervenção propriamente dita, através de uma análise mais abrangente ao local de intervenção, quer seja sobre o edifício em si (por exemplo, se existem coberturas e terraços passíveis de serem aproveitados para inclusão de estratégias de fomento da biodiversidade urbana), quer sobre a zona de implantação deste (por exemplo, a envolvente urbana é rica em espaços verdes? Que estratégias de ocupação do espaço poderão ser produzidas? Entre outros).

Hoje, mais do que nunca, decorrente do contexto pandémico COVID-19, o Design Biofílico é uma referência na intervenção em espaços construídos, promovendo e permitindo a relação com o exterior, a qual, por si só, é uma necessidade intrínseca ao ser humano e que foi agora exposta.

Surge aqui a oportunidade para elevar o Design Biofílico a um outro patamar e para utilizar este conceito de intervenção como uma ferramenta estratégica de análise e desenvolvimento de design apoiado, sempre, no contributo para a biodiversidade, alcançando espaços mais sustentáveis, através de um desenho centrado nas pessoas e no ambiente.

 





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