Energia e lavoura os “mais gravosos” em termos de emissões nos Açores



Especialistas em questões ambientais consideram que nos Açores os casos da energia e da lavoura são os “mais gravosos” em termos de emissões e defendem uma estratégia regional para o desenvolvimento sustentável.

O diretor do Centro do Clima, Meteorologia e Mudanças Globais na Universidade dos Açores, Brito de Azevedo, em declarações à agência Lusa, reconheceu que há uma postura por parte dos Açores que “indica pelo menos a intenção de promover uma significativa redução das emissões, designadamente no que se refere à transição energética”.

Isto a par da “otimização do aparelho produtivo, através da melhoria das tecnologias”, além da preocupação com a lavoura e “práticas mais adaptadas” aos objetivos ambientais, embora desconheça as medidas do Governo dos Açores em matéria ambiental.

Recentemente, o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, disse que a região está a desenvolver metas próprias quanto à redução de gases com efeitos de estufa, para mitigar os efeitos das alterações climáticas.

“Nós estamos a desenvolver exatamente uma política e um modelo de investimento público capaz de definir objetivos e definir as nossas próprias metas [ambientais] até porque há, por inteligência da aplicação dos fundos comunitários, esta exigência”, declarou Bolieiro aos jornalistas.

O líder do executivo açoriano, de coligação PSD/CDS-PP/PPM, falava nas Lajes das Flores após a sessão do Fórum Autonómico sobre desenvolvimento sustentável.

Para Brito de Azevedo, “uma das coisas que se discute é a questão do contributo da lavoura através das emissões de metano para o computo global”, algo que, na sua opinião, constitui “uma interpretação muitas vezes enviesada, sendo que o metano que os bovinos emitem foi retirado do ar, através da cadeia alimentar, num circuito, por conseguinte, fechado, retornando à atmosfera de uma forma mais degradada, em termos de efeitos de estufa”.

O especialista em questões ambientais considerou que “há uma preocupação nos Açores, de forma particular na academia açoriana, relativamente à produção animal, em minimizar este problema através de melhores práticas e forragens, bem como pela capacidade genética dos animais, reduzindo os efeitos colaterais da emissão e metano para a atmosfera”.

Brito de Azevedo frisa a necessidade de promover a “alteração do aparelho produtivo através das tecnologias utilizadas, com recurso a menores consumos, a par de uma maior eficiência na utilização de energia”.

De acordo com o especialista, a “vantagem dos Açores é poder atingir a mobilidade através das energias renováveis, de forma particular a geotermia e a fotovoltaica”.

Brito de Azevedo defende ainda uma “boa gestão do território com base em modelos adaptados às realidades” das ilhas dos Açores por forma a combater as alterações climáticas.

Joana Borges Coutinho, engenheira agrónoma, salvaguarda à agência Lusa que os Açores “não são no contexto global contribuintes líquidos assim tão significativos”.

Mas defende a necessidade de “continuar a reduzir o carbono” e de haver um “investimento proativo na criação de mercados voluntários de carbono com emissões certificadas nos Açores”.

“Temos todas as condições para o fazer. Com o investimento certo e o desenvolvimento da tecnologia isso consegue-se”, frisou a especialista em questões climáticas.

Destacando um “potencial de geotermia enorme, solar e eólico”, e a necessidade de se “investir na transição energética de forma mais assertiva”, Joana Borges Coutinho afirma que “claramente os casos da energia e da lavoura são os mais gravosos em termos de emissões nos Açores”.

“Se nós nos focarmos em reduzir a pegada desses setores teremos uma grande parte do nosso problema resolvido”, afirma.

Joana Borges Coutinho preconiza que se deve “encarar [as alterações climáticas] como uma oportunidade para melhorar o uso do solo e a produção primária, diversificando-a e fazendo uso dos serviços de ecossistema que se pode providenciar, a par da capacidade de captar e armazenar carbono”.

A especialista defende uma “estratégia regional para o desenvolvimento sustentável que identifique as necessidades de cada ilha e seu potencial de cumprir com indicadores de sustentabilidade”, através da especialização de cada ilha, face às suas realidades climáticas distintas.





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