Energia limpa pode transformar o abastecimento nas comunidades remotas da Austrália



As comunidades remotas de povos originários na Austrália continuam a enfrentar insegurança energética devido ao isolamento geográfico, à dependência do gasóleo e a proteções desiguais quando comparadas com os consumidores ligados à rede elétrica. Perante este cenário, especialistas procuram soluções que orientem a transição para fontes de energia limpa. O professor Apel Mahmud, da área de Engenharia Eletrónica e Elétrica da Universidade Flinders, e a sua equipa estão a investigar formas mais sustentáveis de garantir um fornecimento elétrico fiável a estas populações.

Segundo o investigador, uma solução viável passa por sistemas que combinem energia solar com armazenamento em baterias, capazes de melhorar substancialmente a fiabilidade e a acessibilidade económica, reduzindo a dependência de geradores a gasóleo e proporcionando benefícios concretos às famílias.

Nas últimas décadas, vários projetos de energia renovável — integrando produção fotovoltaica, sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS) e outras tecnologias limpas — têm sido implementados com o objetivo de garantir eletricidade estável às comunidades indígenas e diminuir o consumo de gasóleo, que é caro e pouco eficiente.

Num novo artigo publicado na revista Energies, em coautoria com Tushar Kanti Roy, investigador da Universidade Macquarie, o professor Mahmud conclui que estes sistemas têm demonstrado bons resultados.

“Nas comunidades remotas, os sistemas dominados pelo gasóleo revelam um desempenho consistentemente fraco em termos de custo e fiabilidade, enquanto as soluções bem projetadas que combinam solar e baterias apresentam vantagens claras em ambas as áreas”, afirma.

O académico identifica, contudo, lacunas persistentes na proteção dos consumidores que vivem fora da rede. “Os resultados continuam limitados por falhas regulatórias, sobretudo pela ausência de proteções consistentes para quem não está ligado à rede pública”, sublinha.

“Tal reflete-se nos elevados níveis de interrupção do fornecimento, o que evidencia a urgência de associar os avanços técnicos a mecanismos de proteção alinhados com os direitos dos consumidores.”

Para reduzir as desigualdades e assegurar maior autonomia energética, o professor Mahmud defende que as melhorias técnicas devem avançar em paralelo com salvaguardas regulatórias e modelos de governação comunitária. Entre as propostas concretas inclui:

  • Testar clusters modulares de turbinas eólicas de eixo vertical em conjunto com sistemas solares e baterias, reforçando o abastecimento ao final do dia e em épocas de menor radiação.

  • Instituir proteções que garantam que nenhum consumidor fica em pior situação, abrangendo faturação transparente, apoio em situações de dificuldade, garantias para pessoas dependentes de equipamentos vitais e acesso a mecanismos de resolução de conflitos.

  • Uniformizar sistemas de pré-pagamento alinhados com os direitos dos consumidores, permitindo que os benefícios das energias renováveis sejam refletidos diretamente nas contas das famílias.

  • Implementar plataformas de monitorização com recurso a inteligência artificial e IoT, acompanhadas de formação local, para assegurar o desempenho dos sistemas a longo prazo.

“Quando associadas a modelos de financiamento adequados, reformas políticas específicas e investimento contínuo em competências locais, estas medidas podem proporcionar serviços energéticos fiáveis, acessíveis e culturalmente adequados às comunidades remotas de povos originários”, acrescenta.

Para o professor Mahmud, só uma abordagem integrada poderá garantir que a transição energética seja não apenas tecnologicamente viável, mas também socialmente justa, colocando a liderança comunitária, a autoridade cultural e a equidade no centro do futuro energético da Austrália.






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