Esforços de adaptação às alterações climáticas “lamentavelmente inadequados”, avisa ONU



Os esforços globais que têm vindo a ser feitos para preparar e adaptar as comunidades humanas, especialmente as mais vulneráveis, aos efeitos das alterações climáticas são “lamentavelmente inadequados”.

O alerta é feito pela agência ambiental das Nações Unidas (UNEP), que, num relatório divulgado esta quinta-feira, aponta que o progresso na adaptação climática “está a desacelerar em todas as frentes, quando devia estar a acelerar para responder ao aumento dos impactos e riscos das alterações climáticas”.

Apresentado escassas semanas antes da próxima cimeira climática global (COP28), que arranca no dia 30 de novembro, o documento revela que as necessidades de financiamento dos países em desenvolvimento para a adaptação climática são entre 10 e 18 vezes superiores aos atuais fluxos de financiamento público internacional, cerca de 50% mais do que estimativas anteriores.

Assim, calculam os especialistas que, apenas nesta década, sejam precisos entre 215 mil milhões e 387 mil milhões de dólares por ano para ajudar os países e comunidades mais pobres e vulneráveis a fazerem face às alterações climáticas. Contudo, o atual fluxo de financiamento cifra-se nos 21,3 mil milhões.

Numa mensagem incluída no relatório, António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, argumenta que existe “uma divisão crescente entre necessidades e ação no que toca à proteção das pessoas face a extremos climáticos”.

Para o responsável, a adaptação é uma “emergência”, numa altura em que “vidas e modos de subsistência estão a ser perdidos e destruídos”, sendo que os mais vulneráveis são também quem mais sofre.

Como tal, os autores do relatório indicam que o mundo corre o risco de falhar as metas e objetivos do Acordo de Paris de 2015, quer em termos de limitar o aquecimento do planeta, quer no que diz respeito à adaptação das populações aos efeitos dessa transformação.

Recordando que a temperatura média do planeta está já 1,1 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais e que os atuais planos nacionais (NDC) “estão a colocar-nos no caminho para os 2,4-2,6 graus Celsius até ao final do século”, o relatório mostra ainda que um em cada seis países membros da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC) não possui planos de adaptação, e alguns deles estão particularmente vulneráveis aos impactos climáticos.

Inger Andersen, diretora-executiva da UNEP, aponta, em comunicado, que a intensificação dos efeitos das alterações climáticas – com novos recordes de temperatura máxima, tempestades e secas e incêndios mais intensos – “mostram-nos que o mundo tem de cortar urgentemente as emissões de gases com efeito de estufa e aumentar os esforços de adaptação para proteger as populações vulneráveis”. Contudo, lamenta que “nenhuma dessas coisas está a acontecer”.

Por isso, a responsável insta todos os governos a, na COP28, reforçarem os seus compromissos e apoios para proteger “os países com baixos rendimentos e grupos desfavorecidos dos impactos climáticos prejudiciais”.

Estudos recentes indicam que, nos últimos 20 anos, os danos climáticos sofridos pelos 55 países mais vulneráveis excederam os 500 mil milhões de dólares, e o relatório avisa que “estes custos aumentarão abruptamente nas próximas décadas, especialmente na ausência de medidas fortes de mitigação e adaptação”.





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