Fórum para a Competitividade critica investimento no hidrogénio verde



“A ideia de investir maciçamente no hidrogénio verde baseia-se em vários equívocos”, sustenta hoje o Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade na sua nota de conjuntura de agosto, defendendo antes “a promoção de sumidouros de carbono, pela redução estrutural do incêndios florestais e pela fixação de biomassa no solo”, e “o fomento da conservação de energia, nos edifícios, transportes e outras utilizações”.

Segundo explica o diretor daquele gabinete, Pedro Braz Teixeira, o primeiro “equívoco” tem a ver com descarbonização, na qual aquele investimento se enquadra e para a qual “muito mais importantes e anteriores à alteração da produção de energia estão dois outros objetivos: aumentar a capacidade dos sumidouros naturais de carbono e conservar energia”.

“É preciso recordar que, para se conseguir a neutralidade de carbono, não basta aumentar o peso das renováveis, é essencial a existência de sumidouros importantes de carbono”, sustenta.

Apontando como “preferível”, dentro dos sumidouros, o recurso a métodos naturais do que a artificiais – “até porque estes podem ser pouco fiáveis e envolver uma contabilidade de carbono questionável (qual a pegada carbónica dos equipamentos envolvidos” – o Fórum destaca “duas vias principais a explorar” por Portugal ao nível dos métodos naturais.

“Em primeiro lugar, investir a sério na prevenção dos incêndios florestais, onde o essencial continua por fazer”, defende, considerando ser “necessário promover a gestão profissional do território, muito do qual permanece abandonado, e apoiar as espécies de árvores de maior capacidade de armazenamento de carbono”.

Já a segunda via de sumidouros, “menos óbvia e menos divulgada”, passa pelo “aumento da biomassa no solo, em particular nos terrenos agrícolas, especialmente nos solos mais pobres”.

No entender do Fórum para a Competitividade, “promover a combustão de biomassa (com elevados subsídios) em vez de estimular a sua integração no enriquecimento orgânico das camadas superficiais dos solos é um gigantesco equívoco e desperdício”.

No que diz respeito à conservação de energia, o Fórum considera que Portugal apresenta indicadores “embaraçosamente baixos”, sendo “demasiado frequentes as queixas de as casas portuguesas serem muito frias, como se tivesse alguma lógica que, num país de clima temperado, se passasse mais frio do que no Norte da Europa”.

“Investir na conservação de energia nos edifícios, transportes, etc. pode contribuir a sério para a descarbonização, podendo justificar inaugurações de reabilitação de edifícios públicos”, defende, considerando que “os subsídios atribuídos ao hidrogénio não beneficiam o quotidiano de ninguém, mas a melhoria das condições térmicas de escolas, centros de saúde, lares e repartições públicas têm impacto facilmente percetível pelas populações beneficiadas”.

Para o gabinete dirigido por Pedro Braz Teixeira, “se se alargar estes investimentos de conservação de energia aos bairros sociais e se criarem incentivos para o investimento doméstico com este propósito facilmente se percebe que a conservação de energia pode ser politicamente atraente”.

Na sua abordagem à questão do hidrogénio verde, o Fórum para a Competitividade considera ainda que os subsídios à produção “são de evitar”.

Isto porque, sustenta, “quando um governo atribui um subsídio à produção a uma tecnologia imatura, rapidamente ultrapassada, incapaz, para todo o sempre, de ser competitiva, isso é um buraco sem fundo, em que todos os anos se perdem fundos”.

Para o Fórum, só “depois de lidar com os sumidouros de carbono e com a conservação de energia” é que “faz sentido a produção de energia renovável, mas de preferência com tecnologias já maduras e competitivas, que dispensem qualquer tipo de subsídio público”.





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