“Fracasso imprudente”: Ambientalistas acusam G20 de falhar na ação para combater alterações climáticas



Este fim-de-semana, os líderes das nações do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, estiveram reunidos em Nova Deli, na Índia, para discutirem o estado do mundo e o caminho a seguir, sobretudo à luz dos desafios erguidos pelas alterações climáticas.

Do encontro, resultou a adoção de uma declaração em que os Chefes de Estado reconhecem que as decisões tomadas pelo grupo, que representa perto de 85% da riqueza mundial, dois terços da humanidade e 80% das emissões globais, “determinarão o futuro dos nossos povos e do nosso planeta”.

Sob o mote “Pelo Planeta, Pessoas, Paz e Prosperidade”, esses países assumem o compromisso para limitar o aquecimento global a dois graus Celsius, como plasmado no Acordo de Paris de 2015, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa, seguindo estratégias de desenvolvimento “ambientalmente responsáveis” e “climaticamente resilientes”, e dando mais voz aos países em desenvolvimento, que são os que mais sofrem com os impactos das alterações climáticas, embora a sua contribuição para esses fenómeno seja residual comparativamente aos países mais ricos.

No entanto, apesar dos compromissos agora reafirmados, os membros do G20 continuam a investir grandes quantias na indústria dos combustíveis fósseis. Um relatório recente revela que entre 2019 e 2021, esse grupo e os bancos mundiais para o desenvolvimento investiram, por ano, perto de 56 mil milhões de euros em dinheiro público em petróleo, gás e carvão, cerca de metade do investimento feito em energias limpas.

No final de julho, durante um encontro de ministros do Ambiente do G20, a responsável do Programa Ambiental das Nações Unidas, Inger Andersen, afirmou que é “inegável” que esses países são “responsáveis por muitos dos problemas ambientais que o mundo hoje enfrenta”. E apontou que “os padrões insustentáveis de consumo e produção no G20 estão a alimentar as três crises ambientais planetárias: a crise das alterações climáticas, a crise da perda de Natureza e biodiversidade e a crise da poluição e dos resíduos”.

Em reação à aprovação da Declaração de Nova Deli, a organização ambientalista internacional Greenpeace denuncia que os países do G20 demonstraram “um fracasso incompreensível em agir” numa altura em que “o caos climático aumenta por todo o globo”.

Tracy Carty, especialista em políticas climáticas globais da Greenpeace, afirma, em comunicado, que “apesar de temperaturas sem precedentes, de incêndios florestais devastadores, de secas, cheias e de outros desastres climáticos dos últimos meses que impactaram dezenas de milhões de pessoas, os líderes do G20 falharam coletivamente em chegar a qualquer acordo significativo sobre alterações climáticas este ano”. Por isso, descreve o resultado da cimeira como um “fracasso imprudente”.

Recordando que “os combustíveis fósseis estão a matar-nos”, Carty argumenta que “os líderes não foram capazes de chegar a um acordo para o abandono progressivo” desse tipo de energia, e que esses países assumiram apenas “um compromisso tímido para triplicar as renováveis”, com base em metas e políticas já existentes.

Ainda que Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, país anfitrião da cimeira, tenha afirmado que “foi feita História com a adotação da Declaração de Líderes de Nova Deli”, Avinash Chanchal, da Greenpeace India, salienta que “os países desenvolvidos do G20 falharam redondamente na tomada de ações concretas para aumentar o apoio financeiro internacional para a ação climática” e que “a mera reafirmação” de compromissos que tinham já sido assumidos tornam a Declaração de Nova Deli “inútil” e “não resultará em mudanças tangíveis”.

A presidência do G20 é agora assumida pelo Brasil, uma das economias emergentes pertencentes ao G20, com Lula da Silva, presidente brasileiro, a afirmar que “combater a mudança do clima exige vontade política e determinação dos governantes, e também recursos”.





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