Há 10 mil anos que estas focas vivem num lago na Finlândia. Cientistas dizem que são uma espécie de direito próprio



No sudeste da Finlândia, a umas poucas dezenas de quilómetros da fronteira com a Rússia, está o Lago Saimaa, o maior lago desse país nórdico e o quinto maior do mundo, com cerca de 4.400 quilómetros quadrados.

Estimam os cientistas que se formou há 10 mil anos, devido ao aquecimento da Terra que provocou a Última Era Glacial. Com o recuo do gelo, um grupo de focas-aneladas, da espécie Pusa hispida, ficou preso nesse corpo de água e, desde então, aí vive, isolado das outras populações.

As focas-aneladas do Lago Saimaa estão atualmente classificadas como sendo uma subespécie, de nome científico Pusa hispida saimensis. No entanto, uma equipa de investigadores acredita que não se trata de uma subespécie, mas sim de uma espécie de direito próprio.

Sendo a espécie mais amplamente distribuída no Oceano Ártico e encontradas também nas águas marinhas do norte do Japão e no Mar Báltico, algumas focas-aneladas vivem em lagos, não apenas no Saimaa, mas também no lago Ladoga, na Rússia. De acordo com o consenso científico vigente, essa focas lacustres são consideradas parentes distantes das focas marinhas que ficaram presas em massas de água interiores quando o gelo desapareceu.

Agora, uma investigação liderada pela Universidade de Helsínquia vem revelar que as focas-aneladas do Saimaa divergiram da espécie há mais de 60 mil anos, muito antes da formação do lago finlandês. É por isso que esses cientistas argumentam que as focas do Saimaa não descendem das aneladas que ficaram presas em terra no final da Última Era Glacial, mas que já eram uma espécie distinta antes de isso ter ocorrido.

“Durante muito tempo, estudos genéticos sugeriram que as focas-aneladas do Saimaa são mais diferentes do que podemos pensar com base na história da origem do Lago Saimaa. Mas foi apenas através da análise de todas as focas-aneladas do Ártico que conseguimos datar a diferenciação da linhagem das focas-aneladas do Saimaa das outras”, explica, em comunicado, Ari Löytynoja, primeiro autor do artigo publicado recentemente na revista ‘PNAS’.

A conclusão de que as focas-aneladas do Saimaa devem ser classificadas como uma espécie independente resulta da análise dos genomas e morfologia de quase todas as populações de focas-aneladas do mundo.

Os investigadores dizem que, ao passo que as focas-aneladas que vivem no Mar Báltico e no Lago Ladoga tiverem origem nas populações do Oceano Atlântico, as do Lago Saimaa muito provavelmente terão aí chegado vindas de leste, da atual Rússia, que na altura da travessia, há milhares de anos, estava coberta por lagos gelados, permitindo a dispersão.

Pelo caminho, foram-se reproduzindo com as populações de aneladas que habitavam nas regiões ocidentais.

Ao olharem de perto a dentição das focas do Saimaa, os cientistas perceberam também que os dentes desses animais diferem dos dentes de populações de aneladas de outros locais do mundo, o que sugere que essa população isolada adaptou-se a um espaço ecológico diferente, o que resultou em características físicas também elas diferentes.

“Medições de centenas de espécimes mostram o quão excecionais são os dentes das focas-aneladas do Saimaa”, aponta Jukka Jernvall, um os principais coautores do artigo.

“Estas diferenças suportam os resultados das análises genómicas de uma história de desenvolvimento longa e independente”, declara. Diferenças foram encontradas também na língua e no sistema digestivo das focas do Saimaa, o que os investigadores interpretam como ainda mais provas de que se trata realmente de uma espécie à parte, e não apenas de uma subespécie.

Assim, propõem o nome científico de Pusa saimensis para a nova espécie, uma designação que, segundo Jaakko Pohjoismäki, segundo autor do estudo, “reflete o seu caminho de desenvolvimento independente”.

Fruto de esforços de conservação, a população de focas-aneladas do Lago Saimaa ronda atualmente os 500 indivíduos, e é considerada a única espécie endémica de mamífero da Finlândia.






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