Há “muitos motivos para preocupação” sobre declínio dos insetos nas regiões tropicais



Os insetos são o grupo de animais mais abundante e diverso do planeta, mas estão em franco declínio, com uma estimada redução de cerca de 45% das suas populações só nos últimos 40 anos.

Apelidado de “o apocalipse dos insetos”, o crescente desaparecimento desses animais, além de ser uma perda de biodiversidade, tem também impactos ao nível do funcionamento dos ecossistemas e da própria produção alimentar humana. Polinizadores, presas, recicladores de matéria orgânica e de nutrientes e agentes naturais de controlo de pragas agrícolas, os insetos são a base fundamental de muitos habitats e ecossistemas.

Uma equipa de investigadores, liderada pela Universidade de Hong Kong (China), debruçou-se sobre o declínio dos insetos nas florestas tropicais da Terra, zonas que tendem a ser ignoradas nos estudos de perda de insetos, que se focam mais fortemente nas paisagens europeias, apesar de a maioria das espécies habitar florestas húmidas nos trópicos.

Gorgulho nas florestas tropicais do Bornéu. Foto: Marco Chan

 

“Muitos estudos sobre declínios de insetos são de paisagens modificadas na Europa e na América do Norte”, diz Louise Ashton, uma das principais autoras do artigo publicado este mês na revista ‘Nature Reviews Biodiversity’. “No entanto, a maioria da biodiversidade dos insetos está nos trópicos.”

Os cientistas percorreram trabalhos já publicados sobre a perda de insetos nessas partes do mundo e revisitaram esses locais para identificar as principais causas do fenómeno e tentar antever as suas consequências.

A expansão urbana, a perda e fragmentação de habitats e a poluição gerada por explorações agrícolas e cidades são algumas das principais ameaças enfrentadas pelos insetos nas florestas tropicais. As espécies invasoras são também um fator de pressão, especialmente para populações de insetos que vivem em ilhas, sendo que várias espécies nativas de insetos já desapareceram por causa disso.

E, claro, as alterações climáticas são uma “ameaça significativa”, dizem os cientistas em comunicado, comum a todos os insetos nas florestas tropicais, não apenas devido ao aumento da temperatura, mas também às perturbações em ciclos climáticos como o El Niño e a La Niña, cuja ocorrência e intensidade estão a ser afetadas por um clima em transformação.

A perda de insetos nos trópicos pode também fazer aumentar a probabilidade de surtos de doenças, como a dengue e a malária, que usam insetos como vetores de transmissão, que, nas condições ideias, seriam predados por outros insetos, e pode fazer tombar a produtividade agrícola, uma vez que parte dela está dependente da polinização natural feita por esses invertebrados.

Apesar de reconhecer que existem ainda várias lacunas no conhecimento no que diz respeito aos insetos nas florestas tropicais, Timothy Bonebrake, segundo autor do artigo, aponta que esta revisão científica “salienta muitos motivos para preocupação relativamente ao estado dos insetos tropicais”.

O cientista diz que “precisamos de mais investigação” e também de “conservar já os habitats e implementar outras intervenções de conservação para manter a biodiversidade tropical”.






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