Habitats de espécie ameaçada de ostra europeia “colapsaram”, alertam investigadores
A ostra-plana-europeia (Ostrea edulis), uma espécie nativa das regiões europeia e mediterrânica e que se considera ter um estado de conservação desfavorável, é conhecida por construir recifes ao largo da costa, de tal forma que essas áreas são muitas vezes conhecidas como os recifes de coral das zonas temperadas.
Esses recifes, em tempos, cobriram áreas tão extensas quanto campos de futebol e chegaram, no seu conjunto, a alcançar mais de 1,7 milhões de hectares. No entanto, a captura excessiva, a poluição e doenças causaram o colapso ecológico dessas zonas, revela uma equipa de investigadores num artigo publicado na revista ‘Conservation Letters’. Agora, os recifes de ostras-planas-europeias estão degradados e fragmentados, estimando-se uma densidade média de menos de uma ostra por metro quadrado. Nos locais onde ainda resistem, como ao largo da costa escandinava, esses recifes tendem a não ter áreas maiores do que 0,1 hectares.
Esta espécie de ostra construtora de recifes é considerada um elemento fulcral para uma diversidade de outros animais, com as suas construções marinhas a suportarem comunidades vibrantes de peixes, caranguejos, estrelas-do-mar e até de aves marinhas e de humanos, que criaram vivências e modos de subsistência em torno desses recifes.
Além disso, são uma importante proteção da costa contra a força erosiva das marés e os efeitos das tempestades, e sendo as ostras animais filtradores são essenciais para manter a saúde dos ecossistemas marinhos. Com o colapso destes habitats, tudo o resto é arrastado para um precipício de instabilidade e riscos ecológicos.
Assim, com o colapso do ecossistema desta ostra nativa da Europa, “perdemos também um enorme motor de filtração no Atlântico nordeste”, salienta, em comunicado, Joanne Preston, docente da Universidade de Portsmouth e uma das autoras do artigo, acrescentando que “ainda mais grave” poderá ser “a perda de biodiversidade que se alimentava ou vivia nesses recifes”.
Por sua vez, Philine zu Ermgassen confessa que “ficámos chocados com as nossas descobertas”. O investigador da Universidade de Edimburgo e primeiro autor do estudo diz que o trabalho de compilação de informação sobre a evolução histórica dos recifes da ostra-plana-europeia, bem como as suas contribuições para o ecossistema marinho como um todo, permitiu perceber “o papel indispensável que estes recifes em tempos desempenharam”.
Embora vários projetos de restauro dos habitats desta espécie nativa da Europa estejam já em curso no Reino Unido e na Irlanda, o cientista avisa que, por si só, podem não ser suficientes.
“Os atuais esforços de recuperação serão insuficientes”, aponta zu Ermgassen, que defende que, primeiro que tudo, é preciso olhar para a história destes recifes para perceber que condições permitem uma melhor recuperação, e não com base somente no cenário presente, já influenciado por fatores como a poluição, a sobre-pesca e outras atividades humanas. Ademais, é preciso mais financiamento.
“O atual estado de colapso do ecossistema de recifes da ostra nativa da Europa é, por conseguinte, um poderoso aviso de que o estado dos mares europeus é mais grave do que geralmente se reconhece quando as nossas avaliações se limitam a bases de referência mais recentes”, pode ler-se no artigo.