Invisíveis mas “essenciais”: Organização mundial cria comissão de especialistas para conservar as espécies mais pequenas do planeta

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), considerada a maior organização mundial de ciência e políticas ambientais, criou um grupo de especialistas que terá como missão proteger a biodiversidade de micróbios da Terra.
Inserido na Comissão de Sobrevivência das Espécies da UICN, o grupo será liderado pelos microbiólogos Jack Gilbert, da Universidade da Califórnia em San Diego (Estados Unidos da América) e Raquel Peixoto, da King Abdullah University of Science and Technology (Arábia Saudita).
A criação do grupo foi formalmente anunciada num artigo publicado recentemente na revista ‘Nature Microbiology’, no qual os cientistas dizem que o principal propósito é investigar perturbações ecológicas e potenciais extinções de estirpes específicas de micróbios, como bactérias, fungos e vírus, que descrevem como sendo “essenciais para a saúde planetária e humana”.
Aos que se possam questionar sobre a necessidade de conservar espécies microscópicas que tendemos a associar a doenças e pandemias globais, os especialistas recordam que as bactérias, por exemplo, são elementos fundamentais do microbioma dos recifes de coral e são fundamentais nos ciclos de nutrientes em terra e no mar.
Apesar da sua importância, a vida microbiana não tem sido devidamente considerada nos esforços de conservação globais, lamenta Gilbert.
“Tem sido fácil ignorar os micróbios porque eles são invisíveis. Ao elevar os micróbios desta forma, a UICN assegurará que micróbios essenciais são avaliados e protegidos face à extinção”, acrescenta.
O novo grupo juntará ecólogos, especialistas em conhecimento tradicional e líderes conservacionistas para desenvolverem e promoverem ferramentas. Estratégias e políticas de conservação que integrem a microbiologia na governança global da biodiversidade.
Definir prioridades de conservação de ecossistemas microbianos ameaçados pela destruição de habitats e atividades humanas, criar uma lista vermelha de espécies de microrganismos ameaçados de extinção e descobrir formas de usar micróbios para reforçar esforços de conservação existentes são algumas das ações que este grupo pretende concretizar.
De recordar que probióticos microbianos estão já a ser usados para recuperar recifes de coral, para melhorar a resiliência de culturas agrícolas e para revitalizar ecossistemas de grandes espécies carismáticas.