IV Conferência Green Savers: “Uma empresa que não se preocupa com a jornada ESG terá dificuldade em contratar os melhores talentos”



A IV Conferência Green Savers intitulada “Os Pilares da Sustentabilidade” realizou-se ontem, dia 26 de outubro, na Sala Jardim, d’O Clube – Secret Spot Monsanto, em Lisboa, e contou com oradores dos mais variados sectores nacionais.

Patrícia Faro Antunes, membro da Direção do ‘GRACE’ e Diretora de Sustentabilidade na Accenture Portugal, explicou que a Accenture tem como função mobilizar todo o ecossistema comercial, desde as empresas, passando pelas associações empresariais e até por organismos públicos. “Inicialmente, o foco da sustentabilidade concentrava-se na responsabilidade ambiental e social das multinacionais e empresas” com forte impacto económico, sublinhou.

No entanto, acrescentou, atualmente, o ESG contempla uma variedade de condições, como oportunidade e atividade das empresas. Além da importância de “gerar valor e riqueza, uma empresa deve valorizar a experiência também do cliente final, o financiamento, os meios de comunicação e a comunidade em que se insere”, explicou.

Para a responsável, uma empresa que busca a transição para a sustentabilidade, e para se destacar da sua concorrência, deve cumprir a legislação e reportar dados por meio de um relatório. É imperativa a “existência de uma estratégia que encare a sustentabilidade como uma oportunidade para gerar valor adicional, estabelecer novas parcerias e abrir novos mercados”, diz.

Por outro lado, acrescenta, “uma empresa que não se preocupa com a jornada ESG terá dificuldade em contratar os melhores talentos e não terá uma contribuição positiva no processo de garantir recursos para as gerações futuras. Não monitorizar o impacto ambiental, trará dificuldade em comunicar com a sua comunidade ou cliente final, e será avaliada com base nesses critérios. Um dos tópicos que mais
impacto tem é o rating dos fornecedores. A sustentabilidade deixou de ser apenas um atributo
‘agradável de se ter’ para empresas, mas uma questão de sobrevivência”.

Rui Nobre, COO da DPD, afirmou que foram tomadas diversas medidas cujo objetivo pretendia reduzir a sua pegada ambiental através do uso de veículos elétricos, implementação de medidas de eficiência energética e da promoção de soluções de transporte sustentáveis.

Além disso, a empresa “procura trabalhar em parceria com outras instituições e empresas para encontrar soluções conjuntas para os desafios ambientais. Através de todas estas medidas, a DPD está comprometida em contribuir para a sustentabilidade do comércio eletrónico e para a redução do impacto ambiental associado a este setor”, explicou.

‘Sustentabilidade Corporativa, qual o rumo a seguir

A realidade ambiental e as questões de sustentabilidade são tópicos cada vez mais discutidos e relevantes nas diversas ramificações que envolve e afeta. Por isso, na primeira ‘Mesa Redonda’ da manhã, com o título ‘Sustentabilidade Corporativa, qual o rumo a seguir’ começou por discutir-se a posição de Portugal na União Europeia e que continuam a existir desafios sociais a enfrentar nesse sentido. É por isso que debater e promover a sustentabilidade é fundamental.

Neste contexto,  Pedro Fernandes, Climate Change Business Developer, convidado a discursar pela APCER, considera “impossível gerir uma empresa de forma eficaz sem tomar em conta os pilares ESG” e a responsabilidade social princípios que guiam as organizações na busca por um equilíbrio entre a criação de valor económico, a proteção ambiental e o bem-estar social. “A APCER desempenha um papel importante na mudança do paradigma ambiental”, ao monitorizar a estratégia de sustentabilidade de cada empresa, em consonância com a legislação como pelas entidades europeias, começam a exigir a
divulgação de dados não financeiros relacionados com o ambiente e a responsabilidade social, asseverou.

No caso do Grupo AdP, a preocupação com o abastecimento de água e gestão de resíduos está alinhada com os princípios ESG (Environmental, Social, and Governance) e com a necessidade de comunicação de dados não financeiros.

Além disso, José Martins Soares, Presidente da AdP Energias, ressalta a importância de monitorar e reduzir a pegada ecológica de cada empresa.

Julieta Silva, Business Developer Manager da Voltalia , recorda o envolvimento por parte da sua empresa em projetos de energias renováveis internos e para terceiros e considera indispensável manter os colaboradores saudáveis. “Trabalhar junto da comunidade para obter mais informação em como minimizar os impactos da sua intervenção ambiental” já é parte da jornada.

Destaca a importância do aumento da transparência, desde ao fornecedor à subcontratação, exemplificando que para si, uma simples árvore, exige todo o respeito e não pode ser destruída para a realização de uma infraestrutura, como por exemplo um parque eólico, e que as empresas perdem competitividade ao não corresponderem com a exigência social e economia proposta pelas ESG relativamente á sustentabilidade e responsabilidade socia, assim como inúmeros projetos perdem valor.

Emídio Pinheiro, Presidente da EGF, reforça que “uma adequada gestão de resíduos define o caminho e sucesso de cada empresa” e que, apesar disso, “todos devemos assumir a responsabilidade de cada ação perante o ambiente”, como por exemplo, “o desperdício de 1L de água, envolver o desperdício de toda a energia e recursos utilizados para obter essa mesma quantia de água”.

Além disso, “60% dos resíduos acabam nos aterros e, por isso, é preciso trabalho e investimento em cada função e junto de todas as diferentes comunidades para que sejam cumpridos os vértices ESG”, salienta.

Entre ambas as sessões de ‘Mesa Redonda’, Luis Carlos Martinez, da Bondalti Water, contribuiu com diversas ideias relativamente à agua e ao seu consumo, tendo reforçado que a reciclagem da água mais importante, para que cada empresa, tenha forma de cumprir com as exigências de uma melhor sustentabilidade dos recursos consumidos, já que por vezes “é até possível o agrupamento dos recursos utilizados de diferentes empresas e construir assim uma infraestrutura de limpeza e reutilização da água consumida nas diferentes indústrias”.

ESG, Somos todos agentes da mudança

Numa temática que coloca qualquer indivíduo no centro da mudança pela sustentabilidade, a professora catedrática da Universidade Nova FCSH, Maria José Roxo, relembra que as “alterações climáticas são uma realidade” e que há muito deixaram de ser um futuro.

Reforça que o “uso irracional de recursos naturais é o ponto de provocação”, assim como o aumento da aridez, que num solo mal tratado “resulta no aceleramento da desertificação e numa sustentabilidade agravada” durante  o processo. “Desmistifica à posteriori que o deserto em Portugal é um mito, existem sim áreas do país degradadas, apesar da existência de diversos recursos e soluções para reverter a atual situação do solo em Portugal”, chama à atenção não só para a existência de culturas que não protejam o solo, como a falta de diversidade nas culturas.

“Tem que ser reconhecida a pressão de uma sociedade consumista”. Uma das frases que precederam a intervenção Jorge Cardoso Gonçalves, Presidente da da APRH – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE RECURSOS HÍDRICOS, que reflete sobre o facto das “grandes massas de água que abastecem as necessidades do desenvolvimento capitalista, do setor agrícola e industrial, já estão e piorarão fenómenos de escassez de água e posterior seca do solo”.

Apela também ao consumo responsável de água e confirma o papel crucial do solo na preservação da água, e que, uma das soluções passa por “conectar as cidades, promover o uso racional da água”, referindo, por exemplo, que “não existe qualquer necessidade de limpar as ruas com água potável”, apontando para uma “falta de gestão no sistema de consumo de água e para o envelhecimento das infraestruturas, que ao longo do país apresentam altos níveis de ineficiência”.

No que toca ao seu conhecimento, António Sarmento, Presidente da WavEC, começa por justificar que o programa dos 0 GW Offshore “não apresenta uma solução linear, não só por depender dos desenvolvimentos da energia fotovoltaica, hídrica e das ondas. A transição energética necessária ao desenvolvimento da sustentabilidade no país, propõe um aumento anual de 7% de energia elétrica, algo que implica o crescimento do número de fontes de energias renováveis. O projeto OffShore Renewables, pretende produzir 75% de energia renovável, cuja combinação de todas as fontes, apesar de pouco relacionadas entre si, produzem energia estável, com a redução de necessidade de armazenamento, algo que em Portugal se torna um fenómeno, maioritariamente visto nas barragens”.

Além disso, o “impacto social deste projeto, permite a criação de noventa a cem mil novos empregos, mais de 60% dos empregos proporcionados pelo atual setor majoritário da eletricidade, distribuição de água e gás em conjunto”.

Está projetada desta forma a redução da necessidade da utilização de sistemas emissores de gases que provocam o efeito de estufa e promoção de outras soluções, como “aproveitamento da força das ondas do oceano, que apesar de não permanente, auxilia o processo de mudança e contribuiu para o resolve”. Claro que já foi mencionado o crescimento de “uma tão desejada Economia Azul. No entanto, para isso, Portugal necessita de albergar um tecido empresarial dedicado ao mar, com a formação de tripulações e embarcações dedicadas ao mesmo propósito, com um impacto positivo direto na aquacultura offshore na costa de Portugal”.

Francisco Ferreira, Presidente da ZERO, considera que “é preciso ter atenção ao enquadramento
de Portugal” na sua possível posição perante as energias renováveis e as consequências que
cada processo de produção de energia renovável, seja ela eólica, como solar, tem no território em
que é feita a intervenção para o maior aproveitamento da zona, já que a dependência de Portugal
perante os mercados internacionais é um fator que se destaca no que toca aos locais de
produção.

“É necessário prevenir conflitos que surjam em centrais solares de dimensão grande”

Por último, segundo o responsável, é necessário prevenir conflitos que surjam em centrais solares de dimensão grande, é preciso mais investimento no agrivoltaico, minimizar a desflorestação e procurar locais menos conflituosos para a construção de infraestrutura produtores de energias renováveis.

O encerramento da conferência foi feito por Jorge Cristino, autor e gestor, especialista em sustentabilidade e governança multinível, que faz uma comparação entre o funcionamento do corpo humano e a sustentabilidade, que deve ser tida em consideração com cada ação, atitude, cidade, estrada, entre outros. Se desta forma for, “o sucesso de todos processos, consequentes transformações e reutilizações devem estar interligadas” para que tudo funcione em conformidade com a sustentabilidade do ambiente e dos recursos naturais, cuja legislação e utilização deve ser monitorizada e respeitada.

Como em qualquer cadeia alimentar na natureza, “todas as ações que cada pessoa tem devem ser reanimadas para que o impacto seja significativo, a adesão a meios de transporte sustentáveis mais significativa”, sublinhou Jorge Cristino.

Assim, é apresentada a conclusão de que o desenvolvimento humano deve assentar não só nos 3 pilares
ESG, como na “justiça intergeracional, com uma maior solidariedade perante as gerações futuras”.

Torna-se também evidente que, a “falta de paz”, por exemplo, devido a conflitos territoriais, sociais
e culturais, reflete e tem um impacto negativo na sustentabilidade, pelo facto de a
responsabilidade social pertence a um espectro de uma atitudes que devem englobar o ambiente
como uma questão de sobrevivência a longo prazo.





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