Kenya, o último elefante a viver em cativeiro na Argentina, encontra a liberdade no Brasil

Kenya, o último elefante a viver em cativeiro na Argentina, chegou ao Santuário Global do Brasil na cidade de Chapada dos Guimarães, no estado brasileiro do Mato Grosso, na manhã do passado dia 9 de julho.
Cinco dias antes, tinha deixado o Ecoparque na cidade de Mendoza, na Argentina, onde viveu durante cerca de 40 anos em cativeiro. Kenya, uma fêmea de elefante-africano (Loxodonta africana) descrita como sendo afetuosa, inteligente e com uma personalidade forte, deu entrada nesse zoológico em meados de 1980, quando tinha três ou quatro anos, oriunda de um zoo na Alemanha.
De acordo com a organização Global Sanctuary for Elephants (GSE), que coordenou a transferência, Kenya passara toda a sua vida em reclusão, sozinha e longe do seu habitat natural, “num recinto empoeirado, tendo como única companhia uma pintura de um elefante no muro de cimento” que rodeava o recinto onde morava. No Ecoparque, o animal podia, ainda assim, comunicar, através de sons, com os outros elefantes que lá residiam, embora sem qualquer contacto visual ou físico.

Quando, no dia 7 de julho, Kenya, agora com 44 anos, atravessou a fronteira para o Brasil, a Argentina passou a ser oficialmente um país sem elefantes em cativeiro, após 136 anos da prática nessa nação sul-americana. A libertação na Natureza aconteceu no âmbito de uma transformação legislativa na Argentina, em 2016, para mudar as práticas dos parques zoológicos no país e para melhorar o bem-estar dos animais aos seus cuidados, o culminar de um trabalho de décadas.

Desde então, os zoos tradicionais foram convertidos em ecoparques e mais de mil animais, como leões, tigres, ursos, primatas e outros elefantes, foram realojados noutras instalações, mais bem-adaptadas para responder às necessidades particulares de cada uma das espécies, como santuários e centros de resgate.
O realojamento de Kenya resultou de um trabalho afincado que se estendeu por oito anos, durante os quais treinadores especializados preparam o grande mamífero para a viagem e a integração na sua nova casa permanente no Brasil.
À chegada ao santuário, as equipas médico-veterinárias perceberam que Kenya estava acima do peso ideal, mas acreditam que um plano nutricional adequado permitirá chegar à condição corporal desejada. O elefante tem apenas uma presa, com um crescimento invulgar, pelo que os cuidadores estarão atentos a eventuais problemas de saúde que daí possam advir.
Quando a porta do contentor onde fora transportada foi aberta, Kenya lançou-se, após cerca de meia hora de aparente indecisão, na exploração do novo lar. Abanou-se para sacudir o pó e mergulhou num charco de lama, emitindo rugidos que os cuidadores interpretaram como sendo de contentamento.

O santuário abriga atualmente um total de sete elefantes, todos fêmeas: Kenya e Pupy, elefantes-africanos, e Maia, Rana, Mara, Bambi e Guillermina, elefantes-asiáticos (Elephas maximus). Cada espécie tem um recinto próprio, adaptado às suas necessidades específicas e tentando simular os seus habitats selvagens.
Quando forem recebidos machos, o objetivo é que residam separados das fêmeas, pelo menos numa fase inicial, para evitar agressões e controlar a natalidade.
Pupy, o outro elefante-africano residente no santuário, fora resgatada do Ecoparque de Buenos Aires, onde viveu três décadas em cativeiro, depois de para lá ter sido transferida do Parque Nacional de Kruger, na África do Sul em 1993. Chegou ao santuário em abril deste ano, com uma idade aproximada de 35 anos.
“Kenya agora tem espaço, cuidados e autonomia para começar a recuperar de décadas de confinamento e de isolamento e para redescobrir o que significa ser um elefante”, diz a GSE.