Moinhos reabrem este fim de semana para contar histórias do passado
O moinho de água de António Machado, em Telões, Vila Pouca de Aguiar, reabre por estes dias para contar histórias de um passado em que ali se moíam os cereais colhidos nos campos e que alimentavam famílias e animais.
“É uma oportunidade de ver como é que as pessoas antigas transformavam o cereal desta zona, terra de milho e centeio predominantemente, mas também de cevada e trigo”, afirmou à agência Lusa o moleiro, de 76 anos.
O município de Vila Pouca de Aguiar associa-se à celebração do Dia Nacional dos Moinhos, no domingo, mas já a partir de hoje é possível visitar os três que, neste concelho do distrito de Vila Real, vão estar de portas abertas.
“É importante para chamar a atenção das pessoas”, frisou António Machado, referindo-se à iniciativa “Moinhos Abertos” que é realizada anualmente desde 2007.
Em 2024, são 219 moinhos e 104 núcleos moageiros, espalhados por 71 municípios, que vão estar de portas abertas no âmbito da iniciativa da Rede Portuguesa de Moinhos.
Localizado no ribeiro dos Moinhos, o pequeno edifício de pedra de que pertence à família de António Machado foi construído pelo seu bisavô por volta de 1830 e, embora esta nunca tenha sido uma atividade a tempo inteiro, assume muitas vezes o papel de moleiro para moer e partilhar histórias do passado.
“Inclusivamente moíam aqui a grainha das uvas para dar de comer aos porcos. Secavam a grainha que, depois, era moída aqui”, contou.
Os moinhos desempenharam um papel importante até meados do século passado. Nestes, aproveita-se a força da água para pôr funcionar o sistema de moagem.
“Esta era a única maneira de fazerem farinha para cozer o pão, porque não havia padarias, padeiros e, portanto, todas as pessoas se serviam destes moinhos para transformar o cereal em farinha. Hoje em dia é só para as pessoas verem, embora, neste caso a farinha vai ser também aproveitada para cozer e para fazer broa”, salientou.
Antigamente este moinho trabalhava, contou, “dia e noite” e era uma ajuda importante para “as despesas da casa”.
António convida a entrar no edifício. No exterior ouve-se o som do ribeiro e, lá dentro, o moleiro revela as principais peças que dão vida a esta estrutura: a mó, o pouso e o rodízio e mostra a farinha de milho que está ali a ser moída.
“Hoje só tem interesse histórico, mas antigamente era um interesse económico”, realçou, lembrando que neste ribeiro ainda existem oito moinhos, que lhe deram precisamente o nome, dois dos quais ainda funcionam.
O presidente da Junta de Telões, Luís Sousa, disse que é “por carolice dos proprietários” que estes dois moinhos ainda funcionam nesta freguesia, o de António Machado e de Eusébio Borges.
“E por gostarem de mostrar estas coisas à população e aos alunos que vêm cá fazer muitas visitas”, frisou, lembrando que nesta zona a agricultura era a principal atividade económica das famílias.
A iniciativa “Moinhos Abertos” é organizada pela Rede Portuguesa de Moinhos em colaboração com a Sociedade Internacional de Molinologia (TIMS), com os proprietários de moinhos, moleiros, molinólogos e câmaras municipais.
Segundo a organização, o objetivo é chamar a atenção para os moinhos tradicionais portugueses e serve também para identificar problemas e oportunidades, germinar projetos e ideias, ou mesmo para levar a cabo pequenas beneficiações (limpezas, pinturas, consertos de coberturas,) com a participação de ativistas e visitantes que o pretendam, preservando os moinhos e criando dinâmicas de desenvolvimento em torno deles.