O medicamento veterinário que está a matar os abutres (com FOTOS)



A utilização excessiva do medicamento veterinário diclofenac, uma substância anti-inflamatória  utilizada para tratar o gado, está a matar milhares de abutres em todo o mundo, denunciou a comunidade ecológica no Dia Internacional do Abutre, que hoje se comemora.

Inicialmente, este dia dedicado aos abutres era apenas celebrado pela Birds of Prey Programme, uma organização sul-africana e pela Hawk Conservancy Trust, de Inglaterra, que se juntaram e conseguiram internacionalizar este dia, com o objetivo de fazer de fazer passar a mensagem a mais pessoas

Este ano procura-se alertar para a utilização do diclofenac, que causa a morte dos abutres por falência renal. A utilização do diclofenac veterinário já causou o desaparecimento de 99% dos abutres no sul da Ásia.

“Este fenómeno está a espalhar-se pela Europa, onde existem quatro espécies de abutres. Em Portugal existem três espécies, o britango, em perigo de extinção, o abutre-preto, criticamente em perigo, e o grifo, quase ameaçado. São espécies que podem ser encontradas em regiões remotas do interior, junto à fronteira, e têm uma importante função sanitária nos ecossistemas. Estas aves limpam os campos de cadáveres de animais selvagens e domésticos, de um modo rápido e eficiente, e a custo zero”, explica a SPEA em comunicado.

Estudos recentes demonstram que as grandes águias também sofrem do envenenamento pelo diclofenac. Foram encontradas águias-das-estepes mortas na Índia com resíduos deste medicamento. Estas águias são do mesmo género da águia-real e da águia-imperial, duas espécies em perigo de extinção em Portugal. Os cientistas receiam que as aves deste género possam ser susceptíveis a esta substância tóxica, temendo-se o declínio destas espécies no continente europeu.

Em Espanha e em Itália, consideradas áreas importantes para a população europeia de abutres e águias, o diclofenac veterinário é já comercializado legalmente, apesar de existirem outros produtos alternativos.

Perante estas condicionantes, a BirdLife International e a Vulture Conservation Foundation, em conjunto com organizações nacionais, juntaram esforços para organizar uma campanha com o intuito de banir o uso de diclofenac veterinário na Europa e a sua substituição pelas alternativas que existem.

Em Portugal, uma coligação de ONGAs (SPEA, LPN, Quercus, FAPAS, ALDEIA, ATN e CEAI) está a trabalhar junto das autoridades da conservação da natureza e do medicamento veterinário, para impedir a legalização do diclofenac no nosso país.

Os abutres no mundo
Existem 21 espécies de abutres no mundo, cinco delas podem ser encontrados no continente americano. Outros 16 estão distribuídos por toda a África, Europa e Ásia. Dos chamados abutres do Velho Mundo, 75% estão globalmente ameaçadas ou quase ameaçadas. Este deverá aumentar na próxima avaliação do estado de conservação.

As quatro espécies de abutres na Europa

O britango, que se encontra “em perigo”, o abutre-preto que se encontra “Quase em perigo” e importantes populações de grifo e quebra-ossos. Três das quatro espécies de abutres têm vindo progressivamente a aumentar (excepto o britango), sobretudo devido aos esforços de conservação intensivos financiados por projectos da União Europeia. Desde 1996, que a UE e os governos nacionais investiram recursos significativos na conservação dos abutres, tendo havido pelo menos 67 projectos relacionados à conservação destas aves. Entre 2008 e 2012, nove projectos de conservação de abutres receberam 10,7 milhões de euros. Todos os esforços de conservação serão inúteis se o uso do diclofenac veterinário se tornar generalizado.

O que é o diclofenac? 

O diclofenac é um medicamento anti-inflamatório não esteróide (AINE) presente em muitos medicamentos usados para tirar as dores moderadas. É extremamente tóxico para os abutres em pequenas doses. O seu uso no gado causou a morte a 99% das populações de abutres no sul da Ásia na década de 90. Os abutres que comem bovinos tratados com uma dose veterinária do diclofenac morrem em menos de 2 dias.

Existem alternativas seguras para o diclofenac?
Sim – O medicamento alternativo seguro, o meloxicam, foi testado em abutres e em outras espécies de aves. A patente do meloxicam tem mais de 10 anos, ou seja, qualquer empresa farmacêutica pode produzi-lo a custos relativamente baixos.

Fotos: SPEA e Noel Reynolds / Creative Commons

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