O problema de ética da FIFA



Quando o comité de ética da Federação Internacional de Futebol (FIFA) anunciou hoje uma investigação contra quatro dirigentes – entre eles o candidato a sucessor do presidente Joseph Blatter, a 1 de Junho, Mohammed Bin Hammam – por violações ao código de ética e por fraude, a notícia não era propriamente inesperada.

Desde a corrida para a organização dos mundiais de 2018 e 2022 – onde Portugal, através de uma organização conjunta com Espanha, apresentou uma proposta –, e sobretudo depois de alegações da federação inglesa, também ela na luta, de que foram feitos pagamentos e outras formas de compensação para a votação final, que ela estava na calha.

Recentemente, Lord Triesman, antigo presidente da Federação inglesa, explicou num inquérito parlamentar que vários membros do comité executivo da FIFA tentaram vender o seu voto. Jack Warner, de Trinidade e Tobago, pediu 2,8 milhões para financiar um centro educativo – mas passando por ele o donativo, claro; Nicolás Léoz, do Paraguai, pediu, imagine-se, para receber uma Ordem do Império Britânico; enquanto a candidatura do Qatar, que acabou por ser a escolhida para o Mundial 2022, terá oferecido 1,7 milhões de euros a dois membros do comité executivo.

No total, um terço dos 24 membros do comité executivo foram acusados, nos últimos meses, de corrupção. O que se passa com a FIFA?

A resposta estará algures nos números que o mundial de futebol movimenta. Nos quatro anos que dividem um mundial de outro, a FIFA recebe 2,9 mil milhões de euros em patrocínios e outros rendimentos, num total de 450 milhões de euros de lucros.

Apesar dos milhões e milhões de euros movimentados, essenciais para organizar aquele que será, provavelmente – e com os Jogos Olímpicos – um dos dois mais mediáticos eventos do mundo, a verdade é que a decisão sobre onde será disputada a prova continua a residir… neste 24 homens.

O modelo de votação – secreto e pouco transparente – também não ajuda a melhorar as práticas éticas da FIFA. E embora os países do ocidente europeu se queixem de estarem a perder o poder dentro da FIFA – ficarão durante 16 anos sem um mundial, pelo menos, e têm apenas um quarto dos membros do comité executivo – países com a China ou a Índia ainda nem entraram em jogo. Quando o fizerem, que FIFA teremos?

Por tudo isto, os próximos tempos serão fundamentais para a organização. Independentemente do nome do próximo presidente, é importante aproveitar estes vários anos sem grandes decisões estratégicas para escolher um melhor sistema de escrutínio externo; estabelecer um modelo que não exclua os ocidentais nem os países emergentes e economias em desenvolvimento, assegurando a integridade e popularidade do jogo em todo o mundo.

É que, sem ética nem ordem, até um espectáculo com a força do futebol perderá fãs em todo o mundo. E isso será a morte do desporto-rei.

PS: Agora, Bin Hammam tem dois dias para se defender, sendo que a audiência do Comité de Ética realizar-se-á outros dois dias depois, a 29 de Maio, em Zurique. Para além dele, também Jack Warner, vice-presidenta da FIFA, Debbie Minguell e Jason Sylvester, dirigentes do futebol caribenho, estão a ser investigados.

A denúncia veio de um membro do comité executivo da FIFA e secretário-geral da Concacaf, Chuck Blazer, que alertou ontem o secretário-geral da entidade para “possíveis violações do código de ética” por parte destes dirigentes.

As eleições para novo presidente da FIFA continuam marcadas para o próximo dia 1 de Junho, quarta-feira.





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