ONU reconhece como ‘pioneiros’ 10 projetos para recuperar a natureza perdida



Esta semana, num evento online que decorreu à margem da cimeira global da biodiversidade, a COP15, as Nações Unidas distinguiram 10 projetos ‘pioneiros’ que consideram ser modelos a seguir para recuperar a diversidade biológica e os ecossistemas degradados ou destruídos pela ação humana.

No seu conjunto, essas iniciativas, declaradas ‘World Restoration Flagships’, pretendem restaurar mais de 68 milhões de hectares, uma área superior à de França, e criar perto de 15 milhões de empregos.

Depois de selecionados, no âmbito do movimento das NU ‘Década para o Restauro dos Ecossistemas’, liderado pelo Programa Ambiental das NU (UNEP) e pela Organização da Alimentação e Agricultura (FAO), os projetos serão agora apoiados pelas NU para poderem fortalecer os seus trabalhos e alcançar os seus objetivos.

Para Qu Dongyu, diretor-geral da FAO, as 10 iniciativas escolhidas são “as mais ambiciosas, visionárias e promissoras” no que toca à recuperação de ecossistemas.

Uma delas, é o Pacto Trinacional da Mata Atlântica, que junta a Argentina, o Brasil e o Paraguai num esforço conjunto para restaurar 15 milhões de hectares de floresta nesses territórios, com o objetivo de conservar os habitats de várias espécies que estão ameaçadas de extinção, como o jaguar, o mico-leão-dourado, entre outras.

Para isso, serão criados corredores para a passagem segura da vida selvagem de uma área florestal para outra, serão instaladas zonas de abastecimento de água para comunidades humanas e animais e implementadas medidas para escudar a Mata Atlântica face aos piores efeitos das alterações climáticas.

Ao longo de séculos, a Mata Atlântica, caracterizada por uma grande biodiversidade, tem sido devastada durante séculos pela exploração madeireira, pela expansão de áreas agrícola e pelo desenvolvimento imobiliário.

Outro projeto é o ‘Abu Dhabi Marine Restoration’, que tem como propósito proteger a população de dugongos nas águas do Golfo Pérsico, a segunda maior do mundo. Para isso, o governo dos Emirados Árabes Unidos, através da sua agência ambiental, quer recuperar as pradarias marinhas, essenciais para a sobrevivência desses mamíferos herbívoros aquáticos, bem como os recifes de coral e os mangues que cobrem a costa do Golfo, que são fundamenais para proteger as comunidades e ecossistemas costeiros dos eventos meteorológicos extremos causados pelas alterações climáticas.

Foi também galardoada a iniciativa, lançada em 2007, que pretende construir uma ‘Grande Muralha Verde’ em África, que se quer que seja “a maior estrutura viva do planeta”, e cujo principal objetivo criar uma faixa de 8000 quilómetros que atravessará a zona conhecida como o Sahel, que se estende da costa do Atlântico, a ocidente, até ao Mar Vermelho, a oriente, e que abrangerá 11 países.

Até 2030, o projeto quer restaurar 100 milhões de hectares de ecossistemas terrestres degradados, sendo que o reconhecimento recaiu especialmente sobre o trabalho feito no Burkina Faso e no Níger.

A iniciativa ‘Ganges River Rejuvenation’ foi também distinguida, procurando recuperar a saúde do rio Ganges, considerado sagrado para o povo indiano, mas que tem sido afetado pela poluição, pelo aumento populacional, pela industrialização e pelas atividades agrícolas.

Para poder recuperar o rio, essa iniciativa contempla, entre outras medidas, a reflorestação da bacia do Ganges, a promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis e a conservação de espécies como golfinhos, tartarugas e lontras. Até ao momento, já foram restaurados 1.500 quilómetros do rio, de um total de 2.525 km, que se estendem dos Himalaias à Baía de Bengala.

As restantes iniciativas distinguidas debruçam-se sobre a recuperação de ecossistemas montanhosos na Sérvia, no Quirguistão, no Uganda e no Ruanda; a revitalização de recifes de coral em Vanuatu, no Camarões em Santa Lúcia; o restauro das estepes no Cazaquistão e a conservação da taiga, uma espécie de antílope; a criação de um Corredor Seco na América Central para proteger as comunidades humanas e a natureza das alterações climáticas; a proteção das costas marítimas da Indonésia contra a erosão; e a proteção de 10 milhões de hectares de ecossistemas, desde as montanhas até à costa, na China.

Inger Andersen, diretora-executiva do UNEP, considera que “mudar a nossa relação com a natureza é fundamental para reverter a tripla crise planetária das alterações climáticas, da perda de natureza e biodiversidade e da poluição e desperdício”.

Para ela, estes 10 projetos “mostram que, com vontade política, ciência e colaboração transfronteiriça”, é possível travar a degradação de ecossistemas e reverter a perda de diversidade biológica, para “criar um futuro mais sustentável não apenas para o planeta, mas também para aqueles de nós que nele habitam”.






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