Podem as poeiras desérticas ajudar a combater as alterações climáticas?



O fitoplâncton, pequenos organismos semelhantes a plantas que vivem as camadas mais superficiais das águas marinhas, são uma importante parte do ciclo global de carbono.

O dióxido de carbono atmosférico dissolve-se na água, sendo depois usado pelo fitoplâncton como ‘combustível’ para a fotossíntese, processo através do qual esses organismos criam nova matéria orgânica, e parte acabará por se afundar, levando consigo o carbono absorvido.

Por outro lado, parte dos nutrientes de que o fitoplâncton precisa para sobreviver e proliferar vem das poeiras oriundas dos desertos e de outros solos, sopradas pelo vento, e acabam por ‘fertilizar’ os mares.

Assim, as poeiras ajudam a aumentar a quantidade de fitoplâncton, que, por sua vez, fazem aumentar a quantidade de carbono atmosférico absorvido e que, ao afundar, fica aprisionado no leito marinho. A este mecanismo de sequestro de carbono os cientistas chamam de ‘bomba biológica’, que Toby Westberry, oceanógrafo da Oregon State University e principal autor do artigo publicado ontem na ‘Science’, diz ser “um dos principais controlos do dióxido de carbono atmosférico, que é um dos fatores dominantes que está a impulsionar o aquecimento global e as alterações climáticas”.

No estudo, que reuniu investigadores da Oregon State University, da Universidade de Maryland e do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, é estimado que a deposição de poeiras faz aumentar, em média, a quantidade de matéria orgânica que afunda todo os anos em 4,5%, contribuindo, assim, para o aumento do sequestro de carbono no fundo oceânico.

Através da análise de imagens de satélite, os cientistas procuraram estudar a cor do oceano para avaliar a quantidade de fitoplâncton presente após a deposição de poeiras. Quanto mais verde for a água, maior tenderá a ser a presença de fitoplâncton.

Contudo, isso não pode ser generalizado a todos as regiões marinhas, uma vez que, por exemplo, nos oceanos a menores latitudes, a deposição de poeiras não resulta necessariamente no aumento da população de fitoplâncton, embora se registe uma melhoria do seu estado de saúde. Já em águas a latitudes mais elevadas, as poeiras realmente fazem aumentar a dimensão populacional.

Os cientistas explicam que essas diferenças refletem a relação entre o fitoplâncton e os animais que dele se alimentam. Ou seja, apesar de a menores latitudes não haver um aumento significativo da quantidade de fitoplâncton, não significa que as poeiras não estejam a desempenhar o seu papel de ‘fertilizante’. Pode simplesmente querer dizer que o fitoplâncton está a ser consumido mais rapidamente por outras criaturas.

“Os ambientes em latitudes menos elevadas tendem a ser mais estáveis, levando a um equilíbrio estrito entre o crescimento do fitoplâncton e a predação”, explicam os investigadores, algo que dizem não se observar em latitudes mais elevadas.

No entanto, é muito provável que as alterações climáticas venham alterar a interação entre os oceanos e atmosfera, podendo desequilibrar o processo de sequestro de carbono. No entanto, os cientistas reconhecem que é preciso mais trabalho para se conseguir prever que alterações podem vir a ser essas num planeta cada vez mais quente e seco.





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