Poluição luminosa nas regiões costeiras está a afetar a reprodução dos corais



Os recifes de coral estão entre os habitats mais biologicamente diversos do planeta. São locais de refúgio para inúmeras espécies de animais e de plantas, que aí se podem desenvolver longe dos predadores, de delicados equilíbrios ecológicos que mantêm a saúde dos recifes e influenciam também o funcionamento de outras zonas dos mares e oceanos.

No entanto, a subida da temperatura marinha tem provocado eventos de morte massiva de corais, conhecidos como branqueamento, e a poluição tem também feito sentir o seu peso.

Agora, um outro fator de pressão bem juntar-se a essa lista de ameaças aos recifes de coral: a poluição luminosa. Num artigo divulgado esta segunda-feira na ‘Nature Communications’, cientistas do Reino Unido, Panamá e Israel alertam que a iluminação artificial das cidades costeiras está a afetar o ciclo reprodutivo dos corais, fazendo com que esses organismos libertem nas águas marinhas as suas células sexuais entre um e três dias antes do período considerado ideal.

A reprodução dos corais depende dos ciclos lunares, que permitem sincronizar a libertação dos gâmetas e aumentar a probabilidade de fertilização.
Foto: G.P. Schmahl / NOAA

A reprodução dos corais, que em certas regiões do mundo assumem a forma de eventos massivos que transformam a superfície marinha numa tela colorida, é ditada pela Lua cheia. Dessa forma, os corais em vários recifes podem libertar ao mesmo tempo os ovos e o esperma na água, aumentando a probabilidade de cruzamento genético entre populações da mesma espécie e, assim, aumentando a diversidade genética, um trado fundamental para ajudar os corais a resistirem às mudanças ambientais.

Se, por outro lado, alguns corais começarem esse ciclo mais cedo, defasados dos restantes, a diversidade genética das populações pode ficar comprometida. E foi precisamente isso que os cientistas descobriram ao compararem o comportamento de corais expostos a luz artificial durante a noite e de corais em zonas sem a presença desse tipo de iluminação.

Além disso, a falta de sincronização poderá reduzir a probabilidade de fertilização dos ovos e, consequentemente, a capacidade de um recife para recuperar depois de eventos de branqueamento.

Atualmente, a uma profundidade de um metro, cerca de 1,9 milhões de quilómetros quadrados de área oceânica costeira estão expostos à luz artificial emanada de aglomerados urbanos, afetando a reprodução, bem como outros processos biológicos, fisiológicos e comportamentais dos corais.

Thomas Davis, da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, e principal autor do artigo, recorda que “os corais são fundamentais para a saúde do oceano global, mas estão a ser cada vez mais prejudicados pela atividade humana”.

O especialista em conservação marinha considera que este estudo comprova que “não são apenas as alterações no oceano” que estão a afetar os corais, mas também “o contínuo desenvolvimento das cidades costeiras, à medida que tentamos acomodar uma população global em crescendo”.

Para se poder evitar os efeitos nefastos da poluição luminosa urbana sobre os recifes costeiros, Davies defende que a ativação da iluminação noturna artificial deveria ser adiada, “para assegurar que se mantém intacto o período de escuridão natural que intermedeia o pôr-do-sol e o surgimento da lua que espoleta a desova”.

O cientista reconhece que tal poderá ter consequências económicas e de segurança, mas argumenta que “é algo que teremos que potencialmente considerar para garantir que os nossos recifes de coral têm a melhor hipótese de sobrevivência”.

A investigação abrangeu zonas costeiras em todo o mundo, mas os autores destacam os recifes no Mar Vermelho e no Golfo Pérsico como estando a ser “particularmente afetados pela poluição luminosa”, uma vez que as áreas costeiras nessas regiões têm sido alvo, nos últimos anos, de grandes projetos de desenvolvimento urbanístico.

Apesar de aos recifes dessas regiões ser reconhecida uma grande capacidade de tolerância ao aumento da temperatura das águas marinhas, a perturbação causada pelas luzes artificiais pode resultar num declínio da sua capacidade de recuperação e da própria população de corais.

“Este estudo enfatiza a importância da poluição por iluminação artificial como um fator de stress para os ecossistemas costeiros e marinhos, com impactos sobre uma variedade de aspetos da biodiversidade que só agora começam a ser descobertos e quantificados”, destaca Tim Smyth, outro dos coautores do artigo.





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