Portugal apresenta ao mundo mulheres que guardam segredos de um artesanato secular e sustentável
Fátima Lopes é a única mulher que dedica a vida a fazer palitos decorativos de Lorvão. Isabel Martins cria peças a partir do bracejo (fibra vegetal) recuperando uma técnica ancestral. São estas as duas artesãs, guardiãs de segredos com séculos de história, que vão representar Portugal no Rio Artes Manuais, a feira internacional de artesanato que decorre entre os dias 24 e 28 de abril de 2024 no Rio de Janeiro, Brasil.
“Aprendi a fazer os palitos de flor (palitos de Lorvão) com a minha mãe, que por sua vez foi ensinada pela minha bisavó. Já sou a quarta geração da família a dedicar-se a trabalhar a madeira do salgueiro com a ajuda de uma navalha. A ida ao Brasil é um reconhecimento e uma oportunidade para dar a conhecer este ofício com séculos de história”, explica Fátima Lopes, citada em comunicado.
A convite da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, a Direção-Geral das Artes, através do Programa Nacional Saber-Fazer, apresentará ao mundo o programa e as artes dos palitos de Lorvão e do bracejo.
“Esta é uma forma de promover o quer é nosso e que já quase ninguém faz. É preciso mostrar às novas gerações que se podem fazer coisas úteis e bonitas só com aquilo que a natureza nos dá. Isto porque as matérias-primas que utilizo sou eu quem as vai recolher campo. É um ofício amigo do ambiente. Tenho 66 anos, tenho ensinado este ofício a algumas pessoas, mas quase todas elas têm a minha idade. Esta ida ao Brasil pode ajudar a promovê-lo junto das novas gerações”, detalha Isabel Martins, a artesã que cria peças a partir do bracejo, uma fibra vegetal.
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Quem são as artesãs?
Segundo o comunicado, Fátima Lopes aprendeu a trabalhar a madeira com a sua mãe com mais ou menos 12 anos, idade com que começou a fazer os tradicionais palitos de flor. Conta com a ajuda do marido João, que corta os salgueiros e choupos que crescem nos seus terrenos à beira-rio. Conquistou dois prémios na final regional do concurso “World Food Gifts Challenge”.
A arte de trabalhar a madeira de salgueiro está na família desde o início do século passado, quando a sua bisavó começou a fazer palitos de flor. Atribuiu-se a origem da produção destes palitos ao Mosteiro de Lorvão, concelho de Penacova (região centro de Portugal), onde as freiras começaram a esculpir pedaços de salgueiro em pequenas tiras, usadas para decorar os doces conventuais. Atualmente, Fátima Lopes é a única artesã, a tempo inteiro, de palitos de flor.
Isabel Martins cria peças feitas a partir do bracejo, fibra vegetal com a designação científica Stipa gigantea, que cresce espontaneamente na região onde vive, a serra da Malcata. Depois de apanhada e seca é trabalhada em espiral cosida, recuperando uma técnica ancestral utilizada em cestaria. Para além de peças decorativas, tenta criar peças úteis para o dia-a-dia.
O que é o Programa Saber-Fazer?
O Programa Saber-Fazer tem como objetivo salvaguardar e reconhecer o sector das Artes e Ofícios tradicionais através da criação de um repositório digital com informação sobre a produção artesanal nacional, de organização de laboratórios, workshops e da realização de atividades pedagógicas que valorizem as técnicas tradicionais.
O Programa foi aprovado por Resolução de Conselho de Ministros de 23 de outubro de 2020 (89/2020), tem a sua fase de implementação prevista para o período de 2022-2025, e conta com o financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O Programa tem a sua fase de implementação prevista para o período de 2022-2025, e conta com o financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).