“Portugal é um país verdadeiramente oceânico”, garante Secretário de Estado do Mar



“Os oceanos são realmente um tema importante” e representam oportunidades de investimento e novos serviços, afirmou José Maria Costa, Secretário de Estado do Mar, na III Conferência Green Savers “Portugal na Rota da Sustentabilidade”, que decorreu esta manhã em Lisboa.

Segundo o responsável, o País “está fortemente empenhado na transição energética e o Governo quer apostar fortemente nas energias renováveis”, com especial destaque para as oceânicas. Neste sentido, reiterou o compromisso assumido pelo Governo de, até 2030 Portugal ter uma capacidade instalada na ordem dos 10 Gigawatts.

“Portugal é um país verdadeiramente oceânico”, sublinhou José Maria Costa detalhando que o Governo tem a ambição de colocar o País na linha da frente do combate às alterações climáticas, da proteção dos oceanos e da vida marinha. Para esse fim, assume a importância de converter conhecimento científico em “economia azul”, acrescentando que Portugal já é referência a nível europeu com o projeto “Escola Azul”.

No seguimento do Secretário de Estado, Maria João Coelho, “Head of Sustainability Knowledge” da BCSD Portugal, falou sobre as tendências económicas dos últimos 200 anos, designadamente o aumento da população mundial, esperança média de vida e a mobilidade. No entanto, alertou que o percurso foi também marcado pela subida dos gases com efeito de estufas, temperatura média global, perda da biodiversidade e aprofundamento das desigualdades sociais.

“Todas as empresas dependem direta ou indiretamente da natureza e dos seus serviços”, sublinhou a responsável destacando, no entanto, que a taxa de descarbonização em 2021 foi apenas 0,5%, a menor dos últimos 10 anos.

Em Portugal, tanto as grandes empresas como as PMEs consideram a sustentabilidade como oportunidade estratégica. No entanto, apesar de as grandes empresas já terem as suas estratégias alinhadas com os ODS, “ainda temos uma percentagem significativa de PMEs que não estão a incorporar os ODS”, referiu Maria João Coelho.

Seguiu-se a primeira mesa-redonda, intitulada “Estão as empresas a seguir a rota verde?”. Sílvia Machado, “Adviser for Enviroment and Climate” da CIP, disse que o aumento dos custos da energia e das matérias-primas leva as empresas a adotarem estratégias de utilização e consumo de recursos mais sustentáveis. “A sustentabilidade começa sempre por ser um custo devido à incerteza do seu retorno”, reconhece a responsável, acrescentando que a burocracia é uma das principais barreiras à implementação de medidas de circularidade.

Sílvia Machado afirmou ainda que “vai uma grande distância da intenção à ação e não se nota um comportamento mais sustentável dos consumidores”. Por isso, defende que “é preciso investir na edução” para promover comportamentos mais sustentáveis.

Para Maria Figueiredo, “Of Counsel” da CMS Portugal “há uma desconexão entre o conhecimento e a concretização das medidas rumo à sustentabilidade” e há “verdadeiramente” uma necessidade grande para conseguir assegurar que existe formação.

Pedro Wilton, economista e “Senior Account Manager” da Euronext Lisbon, assegurou que “há muito interesse por instrumentos de finanças sustentáveis a nível global”, mas “é preciso simplificar burocracias”. Para o responsável, o paradigma está a mudar e “as pessoas tenderão a preferir empresas mais limpas, mais sustentáveis”.

Já Henrique Pombeiro, “Board Member da FELPT e Co-Founder” da Watt-IS, “as novas mentalidades são mais sensíveis à sustentabilidade”, reiterando que “é preciso simplificar burocracias”.

Para o empresário, são precisos mais incentivos para que as PMEs possam ser mais sustentáveis, pois as medidas existentes “não são muito abrangentes”.

A segunda parte da conferência abriu com Vasco Granadeiro, diretor de Novos Negócios da Bondalti, que apresentou o compromisso da empresa para com a redução das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, destacando que a eletrólise tem um impacto “significativo” na descarbonização, designadamente na produção de hidrogénio verde.

Vera Correia, assessora técnica da administração da EGF, uma das principais entidades de gestão de resíduos em Portugal, disse que ainda é preciso fazer mais para potenciar a recolha seletiva de resíduos alimentares e resíduos verdes “para atingir as metas europeias bastante ambiciosas”.

Assim, quanto à reciclagem, “Portugal está no caminho”, mas alguns países do norte da Europa estão passos mais à frente, pelo que é preciso, por exemplo, atuar ao nível da recolha e valorização dos biorresíduos para ser possível alcançar as metas europeias.

Miguel Aranda da Silva, diretor-geral SDR Portugal, alertou para o facto de, diariamente, sermos confrontados com o problema da poluição por plástico. Neste sentido, o responsável destaca um sistema de incentivo à reciclagem, em que quem deposita é reembolsado, como uma vertente fundamental.

A mesa-redonda intitulada “A Sociedade como Voz Ativa no Futuro do Planeta”, encerrou a Conferência, Alexandra Azevedo, Presidente da Direção Nacional da Quercus, disse que no combate pela Planeta, “todos nós temos o nosso papel a desempenhar”, lamentando quer “Portugal tem falhado muitas metas ambientais”. A ambientalista reconhece que já foram dados passos, mas “não serão suficientes e alguns podem não ser na direção certa”.

Por sua vez, Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da ANP-WWF, afirmou que “coletivamente, o nosso papel no futuro do planeta começa no facto de dependermos de um planeta saudável”. Para a responsável, a agricultura é uma das atividades que mais consome água, e é preciso torná-la mais sustentável, “para que seja economicamente viável, bem como ambientalmente sustentável”, recordando que “uma parte da proteção dos oceanos acontece em terra”.

Rita Pinho Rodrigues, “Head of Public Affairs & Media Relations” da DECO Proteste, afirmou que não podemos esperar que o governo ou que as empresas façam o caminho sozinhas, e “há ainda muito por fazer”, e o consumidor é responsável pelas suas escolhas.

A sustentabilidade não pode ser considerada uma ‘moda’, e consumidores “estão cada vez mais preocupados em tornar as suas vidas mais sustentáveis”.

Rui Costa Neto, Professor ULHT e investigador do IST ID IN+, referiu que na sustentabilidade, “podemos fazer muitas coisas, e já fazemos algumas bem, mas temos que continuar”. “Transportes públicos, casas mais energeticamente eficientes, padrões de consumo mais sustentáveis, esses são eixos essenciais”, concluiu.

Se Portugal está na rota da sustentabilidade, os oradores são unânimes na sua avaliação: estão a ser dados passos na direção certa, mas é preciso fazer mais e, em alguns casos, fazer melhor.

 

 





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