Projeto quer valorizar resíduos das pedreiras de calcário nas serras de Aire e Candeeiros



Um projeto que teve por base amostras de pedreiras de calcário nas serras de Aire e Candeeiros quer valorizar os resíduos destas explorações através da produção de carbonato de cálcio precipitado, disse à agência Lusa a investigadora Anabela Veiga.

Segundo Anabela Veiga, membro da equipa de seis investigadores que está a desenvolver o projeto, “a produção de resíduos de exploração é muito grande e visível na paisagem, o que socialmente não é bem aceite”.

Esses resíduos das pedreiras de calcário das serras de Aire e Candeeiros “são canalizados para escombreiras, para unidades de produção de britas, produção de cal ou de carbonato de cálcio moído”, referiu a também professora na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria.

“As atuais soluções para esses resíduos são de baixo valor comercial” e obrigam ao transporte para outros locais, contribuindo para o aumento do custo, além de ter “implicações ambientais nefastas”, como consumo de combustíveis fósseis, propagação de poeiras, ruído dos transportes, entre outras.

A investigadora considerou que a transformação desses resíduos em carbonato de cálcio precipitado poderá ser uma alternativa para valorizar os resíduos destas indústrias, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e económica.

O carbonato de cálcio é um composto químico e principal componente das rochas calcárias e mármore. Quer o precipitado como o moído apresentam a mesma composição química, mas o primeiro é mais puro, enquanto o segundo mais simples de produzir, por isso “mais barato e as suas aplicações na indústria são menos restritas”.

O carbonato de cálcio é utilizado, por exemplo, em áreas como o vidro, papel, tintas, plásticos, alimentação e farmacêutica.

Anabela Veiga explicou que, “tendo por base amostras colhidas em algumas pedreiras de calcário nas serras de Aire e Candeeiros, foram realizados vários testes preliminares que revelaram que os resíduos/amostras contém mais de 96% de carbonato de cálcio, pelo que poderão ter requisitos suficientes para serem transformados” em carbonato de cálcio precipitado, “cujo valor de mercado é superior ao valor da cal ou do carbonato de cálcio moído”.

De acordo com a investigadora, o trabalho laboratorial realizado permite afirmar que os resíduos de calcário daquelas serras “têm potencial em ser convertidos” em carbonato de cálcio precipitado, com graus de pureza superiores a 98%.

Assim, a produção localizada de carbonato de cálcio precipitado nesta região “pode minimizar o impacto ambiental, reduzindo as necessidades de transporte e o consumo de energia associados ao processo produtivo”, prosseguiu.

Este projeto, denominado “Eco PCC”, é uma das atividades que faz parte do WP5 (Smart Stone Factory 4.0) da agenda ‘Sustainable StonebyPORTUGAL’, e visa a “valorização dos resíduos de exploração do calcário e desenvolver um projeto-piloto de produção de carbonato de cálcio precipitado”.

“Pretende-se, numa primeira fase, validar o conceito da fábrica ecológica de produção de carbonato de cálcio precipitado e, posteriormente, implementar a unidade industrial na proximidade do local de exploração”, adiantou.

Para já, “o processo laboratorial experimental necessita de ser melhorado e de transitar para uma escala superior para garantir” carbonato de cálcio precipitado “de melhor qualidade, adequado a aplicações mais nobres”, afirmou a docente, acrescentando que há ainda necessidade de “estudar a eficiência do processo, explorando soluções produtivas alternativas”, para “melhorar a produtividade e a sustentabilidade”.

O projeto “Eco PCC” começou em 01 de julho de 2022 e terminou em junho.

A agenda verde da pedra natural ‘Sustainable StonebyPORTUGAL’ é desenvolvida por um consórcio de 52 membros liderado pela empresa Solancis e propõe-se, entre outras ações, a desenvolver produtos e tecnologias inovadoras, novos sistemas para a valorização de excedentes e de subprodutos, e processos mais sustentáveis.






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