Quase 17% dos ovos das aves não eclodem, o dobro do que se pensava



A taxa de eclosão dos ovos depositados pelas aves é muito maior do que se pensava. Analisando 231 estudos já realizados sobre 241 espécies, investigadores do Reino Unido descobriram que um em cada seis ovos (cerca de 17%) não chega a eclodir, uma taxa quase duas vezes superior ao que se tinha estimado no passado.

No que toca a espécies ameaçadas de extinção, o trabalho sugere que essa taxa é ainda maior, chegando mesmo aos 43% em aves criadas em cativeiro, algo que os cientistas dizem ser motivo de preocupação e que deve ser tido em conta na criação e desenvolvimento de programas de conservação dessas aves.

“Cerca de 13% das espécies de aves a nível global estão atualmente ameaçadas de extinção, e a tendência tem vindo a piorar”, salienta Nicola Hemmings, da Universidade de Sheffield e uma das autoras do artigo divulgado na ‘Biological Reviews’. “As espécies à beira da extinção têm uma taxa de falha na eclosão muito maior comparando com espécies não-ameaçadas”, sublinha, especialmente em cativeiro.

A especialista questiona se os benefícios da reprodução em cativeiro de espécies ameaçadas realmente se sobrepõem à sua reprodução reduzida na natureza. Para muitas espécies, a reprodução em cativeiro é fundamental para a sua sobrevivência, e é por isso que Nicola Hemmings afirma que “precisamos de pesar cuidadosamente os prós e os contras de diferentes abordagens para garantir que estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para proteger as aves da extinção”.

A alta taxa de eclosões falhadas de espécies em cativeiro, de acordo com os especialistas, está associada a quatro práticas usadas em programas de conservação: a reprodução em cativeiro, a incubação de ovos em incubadoras artificiais, a administração de suplementos alimentares aos progenitores e a utilização de ninhos artificiais pelas aves.

Apesar de sugerirem que estas práticas podem fazer aumentar o risco de eclosões falhadas, os investigadores não deixam de reconhecer que “podem ser importantes para a reprodução e sobrevivência das aves”, apontando que algumas espécies que fazem ninhos no solo na natureza arriscam perder todos os ovos se forem deixados nesses locais, vulneráveis aos predadores ou à colheita por humanos.

Por isso, com este estudo, o cientistas pretendem, acima de tudo, evidenciar os prós e os contras destas técnicas amplamente usadas em programas de conservação, para que os ovos, a crias e as espécies no geral possam ter a melhor hipótese de sobrevivência.

Patricia Brekke, da Sociedade Zoológica de Londres e outra das autoras, explica que “os gestores de conservação estão a fazer um trabalho fantástico na prevenção do declínio das espécies, mas é muito difícil tomarem decisões quando as espécies estão no limiar da extinção, sobre que ferramentas utilizar e quando utilizá-las”.

Contudo, restam muitas questões ainda por responder. Entre elas, é preciso perceber se a redução das populações de aves ameaçadas resulta das elevadas taxas de não eclosão de certas espécies ou se as falhas na eclosão são um reflexo das perdas populacionais.

A principal autora do estudo, Ashleigh Marshall, também da Sociedade Zoológica de Londres, afirma que muitos dos trabalhos desenvolvidos no passado sobre a falha nas eclosões dos ovos têm deixado de lado as populações de aves que estão em cativeiro e que tendem a focar-se sobretudo em espécie que não estão ameaçadas.

Com essa abordagem, diz a cientista, corremos o risco de perder informação importante sobre as espécies que temos de proteger para evitar que desapareçam por completo.





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