Três das quatro espécies de girafas estão a recuperar, mas ameaças persistem

Em 2024, um estudo publicado na revista ‘PLOS One’ declarava ao mundo que, apesar do que se pensava e apesar de algumas resistências em reconhecê-lo oficialmente, há, na verdade, quatro espécies distintas de girafas: a girafa-masai (Giraffa tippelskirchi), a girafa-do-norte (Giraffa camelopardalis), a girafa-do-sul (Giraffa giraffa) e a girafa-reticulada (Giraffa reticulata).
A discussão sobre se existe realmente mais do que uma espécie de girafa ainda não é pacífica e não há exatamente um consenso científico sobre o assunto. Contudo, esse estudo, que se baseia em diferenças na forma e estrutura do crânio e dos ossicones (pequenos altos no topo da cabeça tanto de machos como de fêmeas, semelhantes a cornos), assegura que existem mesmo quatro espécie.
De acordo com a Giraffe Conservation Foundation (GCF), cujos membros participaram nesse estudo, as populações de três das espécies (girafa-do-norte, girafa-reticulada e girafa-do-sul) têm vindo a crescem ao longo dos últimos 30 anos. As populações de girafa-masai, embora não tenham os mesmos níveis de recuperação que as demais, também dão sinais de estabilidade, no que a GCF entende como “um forte sinal de resiliência”.
Os números foram avançados no relatório anual da organização sobre o estado de conservação das girafas em África, o único continente onde atualmente existem em regime selvagem.
De acordo com a GCF, as melhorias nas tendências populacionais são “um resultado direto de ações de conservação eficazes”, bem como de intensa investigação e de uma maior sensibilização global para a sua proteção.
Fruto de um trabalho extenuante, os especialistas estimam que existiam, até junho deste ano, cerca de 43.926 girafas-masai, 7.037 girafas-do-norte, 20.901 girafas-reticuladas e 68.837 girafas-do-sul. Para que o leitor possa ter um termo de comparação, em 1995 estimava-se que existiam 72.290 girafas-masai, 23.771 girafas-do-norte, 36 mil girafas-reticuladas e 31.700 girafas-do-sul. De facto, as populações de girafas-do-sul são as únicas que hoje são mais numerosas do que eram há três décadas.
O relatório atualiza também o mapa de distribuição geográfica das quatro espécies, com as girafas-do-sul concentradas sobretudo na África do Sul, Angola, Botswana, Moçambique, Zâmbia e Zimbabué e as girafas-masai na Tanzânia e da zona de fronteira com o Quénia, onde se encontram as girafas-reticuladas. As populações de girafas-do-norte estão um pouco difundidas pelo centro do continente, em países como o Níger, a República Centro Africana, o Chade, os Camarões e do Sudão do Sul.
Para Julian Fennessy, diretor de conservação e cofundador da GCF, salienta, em comunicado, que os dados plasmados no relatório “apelam a uma reavaliação urgente” da girafa na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, onde ainda só está listada uma espécie, com a categoria de “Vulnerável” ao risco de extinção.
O responsável diz ainda que é preciso reforçar o lugar das girafas em acordos internacionais de proteção de animais selvagens, como a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), e que cada espécie deve ser um plano de conservação próprio, pois, assegura, soluções de tamanho único “não as salvarão”. Isto, porque, apesar dos esforços de conservação e de algumas boas notícias, ameaças como a caça-furtiva e a perda de habitat persistem e continuam a pôr em risco o futuro desses animais.