Vermes “comedores de ossos” já limpam carcaças nos fundos marinhos há mais de 100 milhões de anos



Quando um animal de grande porte, como uma baleia, morre no mar, o seu corpo sem vida eventualmente acabará por se afundar, percorrendo a coluna de água até, por fim, se depositar no leito marinho. Aí, um processo de “reciclagem” começa, impulsionado por uma comunidade de organismos para os quais os restos mortais de animais da superfície são um autêntico repasto.

Desse grupo de necrófagos fazem parte vermes das profundezas, como as espécies do género Osedax (que só foi descoberto há 20 anos), que se alojam no cadáver e furam os ossos para deles extraírem gordura e proteínas. Uma nova investigação revela agora que esse tipo de invertebrados “comedores de ossos” já anda pelas profundezas marinhas há pelo menos 100 milhões de anos, antes de as baleias terem entrado em cena, alimentando-se dos ossos de répteis marinhos ancestrais como o mosassauro, o ictiossauro e o plesiossauro, e deixando marcas distintivas nos seus esqueletos.

Ossos fossilizados com marcas de furos feitas por vermes “comedores de ossos” do género Osspecus. Foto: Jamison-Todd et al., 2025, PLOS One.

O trabalho, liderado por cientistas do Museu de História Natural de Londres, no Reino Unido, identificou sete espécies até então desconhecidas desses vermes, pertencentes ao género Osspecus, antepassado dos Osedax: Osspecus arboreum, Osspecus eunicefootia, Osspecus morsus, Osspecus campanicum, Osspecus automedon, Osspecus frumentum e Osspecus panatlanticum.

Para Sarah Jamison-Todd, primeira autora do artigo publicado na revista ‘PLOS One’ que dá conta das descobertas, os resultados da investigação sugerem que esses invertebrados fazem parte de uma “linhagem” que remonta ao Cretácico, ou talvez se estenda até tempos ainda mais remotos.

A equipa analisou mais de 130 fósseis de répteis marinhos armazenados nesse museu britânico, alguns dos quais desenterrados há quase 200 anos, para estudarem as marcas de perfuração deixadas pelos vermes.

No entanto, essas marcas podem ter tido outras causas, como animais diferentes ou a ação dos elementos, pelo que os investigadores, para confirmarem quem ou o que as fez, submeteram os fósseis a tomografias computorizadas. Dessa forma, criaram imagens 3D que permitiram estudar o interior dos furos e perceber os padrões neles contidos, para tentarem descortinar se foram feitos por invertebrados como os Osspecus.

Vermes Osedax (vermelhos) alimentam-se em ossos de baleia. Os Osedax são parentes vivos dos vermes Osspecus. Foto: Fujiwara et al., 2019, Zookeys.

No final dos trabalhos, a equipa conseguiu identificar sete conjuntos de furos com padrões que sugerem ser novas espécies desse género, com cada animal a deixar uma “impressão digital” única nos nossos perfurados. Estas novas espécies vêm juntar-se à única outra até agora identificada para esse género, a Osspecus tuscia, aumentando, assim, o total para oito espécies conhecidas de vermes pré-históricos “comedores de ossos”.

Sarah Jamison-Todd, citada pelo Museu de História Natural de Londres, diz que alguns furos datados do Cretácico são semelhantes aos furos que são feitos ainda hoje por espécies vivas. Por isso, saber mais sobre essas criaturas marinhas ajudará a desvendar os mistérios sobre a sua evolução.

“Descobrir se estes furos são feitos pelas mesmas espécies ou são um exemplo de evolução convergente dar-nos-á uma ideia muito mais clara de como estes animais evoluíram e como moldaram os ecossistemas marinhos ao longo de milhões de anos”, salienta a investigadora.






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