“Para lá da linha do horizonte”, artigo de opinião de Rui Rosa Dias*



Quem ainda não ouviu falar do Protocolo de Quioto? E na cimeira de Copenhaga? Muito sucintamente, representam tentativas de minimizar e responsabilizar os países de todo o Mundo para o compromisso da redução das emissões de gases com efeito de estufa GEE’s.

Em vigor desde 5 de Fevereiro de 2005, o Protocolo de Quioto prevê uma redução global das emissões de gases, comparando com 1990, de 5% para o período 2008 a 2012.

Como qualquer outra actividade económica, a agricultura utiliza recursos naturais para cumprir o seu papel mais básico: produzir alimentos. Contudo, nos dias que correm, aquela actividade e todos os agentes de determinada fileira agro-alimentar dever-se-ão preocupar não só em alimentar as populações, mas principalmente, conceber produtos saudáveis e com o mínimo impacto possível no meio ambiente e na sociedade.

Neste contexto, não se poderá descurar não só a ameaça mas, acima de tudo, a oportunidade empresarial que advém dos mais nocivos GEE’s: CO2 – dióxido de carbono, cujas fontes emissoras estão presentes nos combustíveis fósseis (petróleo e derivados), da desflorestação massiva e da destruição dos solos; o CH4 – metano, que se encontra na actividade pecuária, na biomassa, nos arrozais e extracção mineira; o NO2 – óxido nitroso, cuja proveniência está relacionada com os combustíveis fósseis, mas também com os adubos e, obviamente, com a desflorestação massiva.

Em menor grau, mas não menos nocivos, surgem os Clorofluorcarbonos, mais conhecidos por CFC’s, com origem nos frigoríficos e arcas congeladoras, ar condicionado e espumas plásticas.

Na relação de forças entre todos os “agentes” emissores de tais gases, e de um total de 42 Gton (Gigatoneladas) de CO2 emitidas em 2000 para a atmosfera, aproximadamente 72% respeitam a dióxido de carbono, 18% a Metano, 9% a óxido nitroso e 1% a outros gases.

Este cenário transporta-nos claramente para uma realidade em que a agricultura sobressai como um dos principais sectores mais emissores de GEE’s. A boa notícia é que, sem a agricultura, a humanidade não sobreviveria.

Um qualquer dia, tenho a certeza que não muito longínquo, todos nós escolheremos enquanto consumidores responsáveis, informados, instruídos, moralizados e fiéis aos valores de quem trabalha a terra, os produtos agro-alimentares que demonstrem não só qualidade intrínseca (esta em si mesma, já pouco ou nada representa), mas acima de tudo, responsabilidade económica, ambiental e social.

Este comportamento expectável de consumo não pode ser assumido como falsa moda, ou pior ainda, como radical e extremista, ao ponto de admitirmos que o Mundo e seus recursos naturais acabarão repentinamente, esquecendo que a Natureza tem um princípio: o do equilíbrio natural.

O mundo, tal e qual o conhecemos, é composto por 194 países, sendo que 38, ou seja, 19,5%, são responsáveis por 55% das emissões totais de GEE’s.

*Rui Rosa Dias é doutorado em Economia Agrária pela Escuela Técnica Superior de los Ingenieros Agrónomos de Madrid e especialista em Marketing Agro-Alimentar, Economia Agrária e Comportamento de Consumo, sendo autor de numerosos artigos publicados em áreas relacionadas com a sua especialização.

É assessor da direcção da Agros nos sectores de marketing, inovação e agricultura biológica, e professor convidado do IPAM.





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