2025 traz oportunidades climáticas perante novos desafios
Por Filipe Ferreira, investigador na Meliore Foundation e na Zero Carbon Analytics
2025 está reservado a ser um ano decisivo e desafiador para a ação climática, em virtude dos conflitos internacionais em curso e do crescente protagonismo da direita na cena política internacional. Com a escalada das tensões bélicas, as prioridades climáticas são frequentemente relegadas para segundo plano, ofuscadas por preocupações humanitárias e de segurança mais imediatas. Para além disso, o sucesso eleitoral registado entre partidos conservadores de direita no Ocidente, com a sua propensão a desvalorizar a política ambiental, ameaça minar o progresso climáticos registados nos últimos anos.
O regresso de Donald Trump à Casa Branca deixará certamente uma mossa no âmbito climático internacional. Durante o seu primeiro mandato, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, revogou várias regulações ambientais nacionais, e estimulou a dependência aos combustíveis fósseis – medidas às quais tenciona dar continuidade e expandir num segundo mandato com a sua retórica “drill, baby, drill”. Considerando que os EUA estão entre aqueles que mais contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa, estas acções poderão representar um grande revés para os esforços climáticos, quer a nível doméstico, quer a nível internacional.
A convergência entre a presidência de Trump e os conflitos armados em curso será decisiva para o êxito ou fracasso dos esforços destinados a assegurar um financiamento climático adequado até 2025. Durante a COP29, foi estabelecida a Nova Meta Quantificada Coletiva (em inglês: New Collective Quantified Goal), com a promessa de 300 bilhões de dólares anuais para financiamento climático até 2035. Apesar de ter sido um passo expressivo para apoiar os países em desenvolvimento mais afetados, ficou ainda muito distante do necessário para mitigar os impactos crescentes das alterações climáticas nesses países.
A COP30, agendada para Belém, no Brasil, será um momento estratégico para abordar estas lacunas financeiras e assegurar uma transição global para uma economia de emissões líquidas nulas. Com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (em ingles, Nationally determined contributions) a vencerem em fevereiro, a cimeira representará um autêntico ensaio da capacidade dos governos de demonstrar planos efetivos capazes de fazer face aos impactos descontrolados das alterações climáticas, acelerar a transição energética e reforçar os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris, sobretudo na sequência dos desfechos controversos da COP29.
Outro destaque será a cimeira do G20, marcada para novembro na África do Sul. Como a primeira reunião do G20 realizada em solo africano, o evento oferece uma plataforma única para a África do Sul, na condição de presidente atual do G20, e para a União Africana, que recentemente garantiu um assento permanente, destacarem os desafios de dívida enfrentados pelo continente e defenderem reformas sistêmicas. No entanto, equilibrar a necessidade urgente de financiamento climático com a resiliência econômica de países fortemente endividados será uma tarefa complexa e desafiadora.
Apesar dos desafios significativos, há motivos para otimismo. São as forças econômicas, mais do que as políticas, que hoje impulsionam progressos no setor climático. Com avanços tecnológicos inéditos e uma onda crescente de responsabilização das empresas, há que aproveitar este impulso para fortalecer a ação climática e a sustentabilidade.
A competitividade económica crescente da energia limpa – especialmente em comparação com os combustíveis fósseis – proporciona uma base sólida para o crescimento a longo prazo. O seu potencial para gerar empregos e criar oportunidades de negócio para investidores assegura a resiliência do setor, mesmo perante a relutância de líderes políticos como Trump. Em 2023, as adições de capacidade renovável global aumentaram quase 50%, atingindo quase 510 gigawatts (GW) – o crescimento mais rápido das últimas duas décadas, logo é improvável que esta dinâmica seja invertida em 2025.
As rápidas inovações na área da inteligência artificial (IA) possuem também um enorme potencial para otimizar redes energéticas, melhorar sistemas de transporte e impulsionar a investigação climática. Contudo, é essencial gerir cuidadosamente a elevada intensidade de recursos associada à IA e os potenciais efeitos de ricochete, em que os ganhos de eficiência podem resultar num aumento global do consumo de recursos.
No setor privado, a sustentabilidade está a tornar-se uma prioridade crescente, com muitas empresas a adotar estratégias como a fixação interna de preços de carbono e soluções baseadas na natureza. Paralelamente, os governos estão a reforçar a pressão para uma maior responsabilidade empresarial, incluindo a introdução de normas obrigatórias para a divulgação de informações climáticas, como as Normas Europeias de Relato de Sustentabilidade (ESRS – European Sustainability Reporting Standards), que entrarão em vigor em 2025. Estas iniciativas estão a levar as empresas a abordar tanto os seus impactos ambientais como os riscos financeiros associados às alterações climáticas, traçando um caminho mais alinhado à sustentabilidade.
Embora 2025 traga sérios desafios, constitui também uma oportunidade decisiva para os esforços climáticos globais. Os obstáculos são inegáveis, mas devem servir de catapulta, e não de muralha. Afinal, progresso genuíno nunca foi alcançado sem compromisso contínuo e resoluto.