Está a nascer um novo projeto que vai estudar os golfinhos no Tejo
Esta tarde, foi anunciado o lançamento de um novo projeto inédito que vai estudar a presença dos golfinhos no Estuário Tejo. O Observatório de Golfinhos no Tejo será situado no Centro de Coordenação e Controlo de Tráfego Marítimo e Segurança do Porto de Lisboa, a Torre VTS, em Algés, e nasce da colaboração entre a ANP|WWF e o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, com o ISPA – Instituto Universitário.
O programa nasceu em 2021 e tem como objetivo produzir conhecimento científico sobre o Estuário do Tejo e a presença de golfinhos no mesmo, preenchendo assim a lacuna existente. Assim, será possível compreender a evolução do Estuário em termos de condições ambientais nas ultimas décadas, mas também, criar uma base de referência para monitorizar cetáceos.
O aparecimento destes cetáceos no Estuário do Tejo não é uma novidade. Embora não exista ainda nenhum estudo científico sobre o mesmo, existem relatos de avistamentos desde o século XIII, refere Ana Henriques da ANP|WWF.
A iniciativa divide-se em três eixos: Governança, Comunicação e Literacia do Oceano e Ciência. Nas duas primeiras, serão envolvidos os stakeholders e os cidadãos no intuito de os aproximar ao tema da conservação marinha e de criar recomendações de medidas de gestão. Quanto à parte científica, será desenvolvido um programa, o CETASEE Tejo, que irá monitorizar a ocorrência e a distribuição espacio-temporal de golfinhos no estuário, recolher informações e trabalhar os dados para responder a todas as questões que existem – como as espécies que existem, as sua características e comportamentos, as atividades que praticam e as condições ambientais. As informações são recolhidas através da monitorização a partir de terra no Observatório; da acústica passiva, com um gravador que se encontra dentro de água do lado junto à torre, e que faz um registo contínuo dos sons do estuário, bem como do assobio assinatura de cada golfinho; e de censos visuais sazonais, ou seja, saídas de mar onde é possível fazer um registo fotográfico dos golfinhos observados. Todas estas ferramentas permitirão estudar as espécies mais de perto.
Como explica Ana Rita Luís, investigadora MARE-ISPA, as observações na Torre VTS são feitas com a ajuda de voluntários em turnos de 4 horas, durante o período diurno, que observam o Estuário com recurso a um telescópio e a binóculos, registando as observações e documentando através de gravações de vídeo. Estas observações são feitas durante 5 minutos, iniciando nos binóculos e passando depois para o telescópio, e partem desde o primeiro pilar da Ponte 25 de Abril, seguindo até à zona da Cruz Quebrada.
O CETASEE Tejo arrancou em março, e durante os 19 dias em análise e as 140 horas de scans contínuos, foi já possível perceber a presença de duas espécies, o golfinho-comum e o golfinho-roaz, sendo que, os aparecimentos são na maioria da primeira. A parte central do Estuário é onde têm sido mais avistados, mais perto da margem sul. A taxa de avistamento registada foi de 40% dos dias com golfinhos, algo que superou a expectativa inicial da equipa. A ideia é que esta recolha se mantenha até ao final do ano.
Será ainda divulgado, no dia 4 de julho, um relatório preliminar que irá apresentar algumas conclusões acerca das condições ambientais do Estuário do Tejo, e incluir algumas recomendações para a sua conservação.
Na sessão de apresentação, o Comandante Rui Nunes, em representação da Autoridade Portuária do Porto de Lisboa (APL), deixou claro que “A APL tem uma capacidade e uma vontade de se envolver nestas questões que têm a ver com a conservação da natureza e com a sustentabilidade do Estuário”.
Já Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF frisou que é um trabalho de todos “conversar o nosso capital natural”, e que “esta ligação das pessoas com a natureza só e possível através deste tipo de projetos tangíveis; tem uma espécie emblemática, que é acompanhada, e por isso acho que pode trazer várias oportunidades, mas principalmente, pode aproximar as pessoas da conservação, que era uma coisa que parecia que estava distante, mas as pessoas são o centro da conservação da natureza, e ao contrario, a natureza é a base de vida de todas as pessoas”.
Manuel Eduardo dos Santos, professor associado e investigador do MARE-ISPA, referiu que este tema engloba “vários mistérios” a que o estudo vai procurar responder, e avançou que “Nunca deixaram de aparecer golfinhos no Tejo, ao longo destas décadas, sempre houve avistamentos ocasionais. Nos últimos anos, efetivamente, tem se intensificado essa realidade, avistamentos diários ou quase diários”.
Admitiu ainda que atualmente “tornou-se evidente que de facto há aqui uma presença de golfinhos no Estuário do Tejo que é mais intensa do que havia antigamente”. “A partir de agora vamos valorizar a presença dos golfinhos neste Estuário. Vamos conhecer que espécies são, o que é que vêm aqui fazer – notem que podem ser coisas diferentes daquilo que acontecia no século XX até aos anos 60. Podem não ser exatamente as mesmas espécies, os comportamentos, os incentivos biológicos podem não ser os mesmos, não sabemos.”