China vai deixar de importar lixo do mundo em 2018
A China informou a Organização Mundial do Comércio (OMC) que, a partir de 2018, pretende proibir a entrada no seu território a 24 categorias de resíduos sólidos, alguns plásticos, papel e têxteis, visando combater os danos para o ambiente e a saúde pública.
Para justificar a sua decisão, Pequim colocou em evidência o argumento ambiental. “Descobrimos que grandes quantidades de resíduos de baixa qualidade, mesmo resíduos perigosos são misturados com resíduos sólidos. (…) E isso polui gravemente o ambiente da China”, disse o Ministério do Meio Ambiente em comunicado.
O país quer melhorar a qualidade dos resíduos que entram no seu território e favorecer aqueles que são bem separados e embalados. Entretanto, o BIR (Bureau International du Recyclage) já reagiu à notícia dizendo que, se for introduzida, a medida “teria um impacto significativo (…) sobre a indústria de reciclagem global e da produção chinesa, que depende de materiais reciclados”.
A China é o maior importador mundial de resíduos, o que lhe permitiu alimentar o crescimento de sua produção industrial. Em 2015, o país importou 49,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos, de acordo com dados fornecidos pelo Ministério do Meio Ambiente.
Mas a China está agora a tentar lutar contra a poluição do ar e do solo provocada em grande parte pelo crescimento económico acelerado, feito sem preocupações ambientais. Segundo a Agence France-Presse (AFP), Pequim também quer fechar muitas das fábricas de reciclagem mais poluentes no país em favor da implementação de instalações mais modernas, e tem fortalecido nos últimos meses o controle de resíduos importados de qualidade.
De resto, as autoridades chinesas têm tido dificuldades em processar o lixo gerado internamente, em resultado da rápida urbanização do país e aumento dos índices de consumo. É conhecido o caso ocorrido em Dezembro passado, quando um deslizamento de terras num parque industrial em Shenzhen, o centro da indústria tecnológica da China, resultou na morte de 70 pessoas, enterrando 33 edifícios. O acidente deveu-se à excessiva acumulação ilegal de resíduos em montes com 100 metros de altura.
Com base nos dados fornecidos pela Reuters, os Estados Unidos e o Japão são os dois maiores exportadores de resíduos de plástico para a China. Os americanos geralmente não reciclam seu plástico; exportam-no. Aliás, de acordo com os dados do Wall Street Journal, até 2012, o lixo – incluindo papel, papelão sujo, latas de cerveja esmagadas e lixo electrónicos – era a principal exportação dos Estados Unidos e a China o importador n.° 1 do lixo da América.
Para os EUA, o principal exportador resíduos do mundo, a decisão da China terá um “impacto devastador”, disse Robin Wiener, presidente do ISRI-Institute of Scrap Recycling Industries citado pela AFP, lembrando que o valor das exportações de sucata de metal, papel e plásticos no país chegou a 5,6 mil milhões de dólares no ano passado. Mas esta decisão não afecta apenas os EUA. “A China representa para a União Europeia mais de 50% de suas exportações de resíduos”, disse também à AFP Damien Dussaux, investigador do Grantham Research Institute on Climate Change, em Londres.
Com o encerramento do mercado chinês, a indústria mundial vai ter um aumento exponencial de volumes resíduos para reciclagem no seu país de origem. Só no ano passado, a China importou 7,3 milhões de toneladas de resíduos plásticos, principalmente da Europa, Japão e Estados Unidos, e 27 milhões de toneladas de resíduos de papel, incluindo 25 a 30% eram uma mistura de papel e papelão, uma categoria abrangida pela medida chinês, de acordo com o BIR. “A Europa não vai ter capacidade de reciclagem suficiente para absorver os volumes de resíduos que vão ficar no mercado Europeu”, avançou com preocupação Pierre Moguérou, vice-presidente Federec (Fédération Professionnelle des Entreprises du Recyclage). E investir em novas capacidades vai levar tempo.
Por outro lado, este anúncio vai encorajar quem consegue fornecer resíduos de alta qualidade. Outros também vêem o anúncio como parte da estratégia da China para apoiar a sua própria indústria de reciclagem. O país anunciou este ano um plano de acção para impulsionar a indústria da reciclagem integrado nos esforços do governo para promover um crescimento ecológico e sustentável. A proporção de produtividade dos recursos deve aumentar 15% em relação ao nível de 2015, e a proporção de utilização dos reciclados deve atingir 54,6% até o ano 2020. A China espera assim impulsionar um modelo de desenvolvimento ecológico e de baixo consumo de carbono para encorajar um estilo de vida verde e um consumo ecológico da população.
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