Reciclar, reutilizar e revalorizar : economia circular é a chave para a sustentabilidade
Diga “sustentável”. Já ouviu esta palavra muitas vezes, e aplicada às mais diferentes situações. Serve para tudo e ainda leva selo de credibilidade. Mas o que quer mesmo dizer? É um conceito chave da economia circular. É sustentável o que foi fabricado com menos recursos, pode ser usado por mais tempo, é fácil de reparar, pode ser reutilizado e revalorizado em fim de vida.
Na nossa sociedade, o hábito de ter produtos descartáveis, de um só uso, tem de passar à História. Só em Portugal, cada cidadão produziu 1,3 kg de lixo por dia, em 2017, segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente, e apenas 16% são recolhidos seletivamente para valorização material. Para onde vão todos esses resíduos? A maioria, para aterro. Outra percentagem, 11%, para reciclar.
Se queremos dar o tom para melhorar a nossa qualidade de vida e ajudar, com gestos pequenos, a combater algumas consequências das alterações climáticas e ter recursos para o futuro, precisamos de rever certos hábitos. Não é difícil. Há imensos objetos do dia-a-dia que podem ser reaproveitados. Podemos alugar em vez de comprar, reparar em vez de comprar novo, partilhar e ainda doar. Vejamos, passo a passo, como podemos fazer para entrar neste grande círculo.
Produtos reutilizáveis
Roupa
Segundo a Fundação Ellen Macarthur, nos últimos 15 anos duplicámos a quantidade de roupas que produzimos e reduzimos pela metade as vezes em que vestimos essas roupas antes de as deitar fora. Também a UNECE (United Nations Economic Comission for Europe) afirma que 40% das roupas que temos no armário não são usadas.
As decisões de compra são, em grande parte, impulsionadas pela moda. Mas existe potencial para reparação e reutilização.
Pequenas modificações aqui e ali ou tingir uma peça de roupa pode ser o suficiente para que a volte a usar por mais tempo.
Procure roupa que dure mais; pode ser um pouco mais cara, mas a duração vai compensar o preço.
Se tiver mantas, lençóis, toalhas, peças de vestuário ou calçado que não usa, mas em estado razoável, doe a alguém que precisa ou a entidades de apoio social. Algumas, como a Associação Humana, disponibilizam contentores em vários espaços comerciais. Confira a localização no site da Associação Humana. As peças aí depositadas são depois vendidas ou enviadas para países africanos. Muitas autarquias disponibilizam também este tipo de contentores, para ajudar a vestir e a calçar quem mais precisa. Pode ainda entregar em paróquias e igrejas com pequenos grupos de recolha.
Em mau estado, corte-a em quadrados e transforme-a em panos de limpeza. Se juntar em grande quantidade, contacte um operador de gestão de resíduos que a aceite e valorize como combustível derivado de resíduos.
Eletrodomésticos
Os consumidores estão cientes da mais-valia que é a opção por produtos duráveis e reparáveis, mas estas informações são difíceis de encontrar.
Milhões de produtos elétricos e eletrónicos são descartados todos os anos na UE. Muitos deles são-no prematuramente, porque não podem ser atualizados, estão fora de moda ou porque não há soluções satisfatórias para a sua reparação. Em muitos casos, o custo da reparação pode estar próximo do custo de comprar um novo produto, desencorajando os consumidores a fazer esta opção. No entanto, de acordo com um inquérito Eurobarómetro publicado em 2014, 77% dos cidadãos da UE preferem reparar os seus bens do que comprar novos. Portanto, por que as pessoas tendem a comprar principalmente novos produtos e de que forma podem ser incentivados a repararem os seus produtos?
Prefira sempre a reparação à substituição. Dentro do possível, contacte representante da marca para o reparar. Nem sempre o orçamento é alto.
Se for possível, leve-o a um dos Repair Cafés, que já funcionam em Lisboa e noPorto (veja em www.circulareconomy.pt): trata-se de espaços em que voluntários oferecem o seu tempo para fazer pequenas reparações.
Opte, sempre que possível, por eletrodomésticos mais duráveis.
Quando substituir o seu eletrodoméstico por um novo, doe a uma instituição de apoio social, desde que ele ainda se encontre em condições de funcionar.
Caso o aparelho já não funcione, pode entregá-lo à loja onde comprou o novo (sem qualquer encargo adicional para si), depositá-lo num ecocentro ou num dos pontos de recolha das entidades gestoras de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos: Amb3e, ERP Portugal e Weeecycle.
Mobiliário
Tente transformar móveis velhos para novas funções, quando possível. Pinte-os, forre-os ou adapte-os se tiver jeito para tal.
Vender em segunda mão ou doar é sempre uma boa opção, quando ainda se encontram em bom estado.
Quando se tornarem inúteis (por degradação) não os deite no lixo: contacte a sua câmara municipal, solicitando a recolha, ou entregue-os no ecocentro mais perto de si.
Baterias de automóvel
As baterias usadas não podem ser eliminadas juntamente com os restantes resíduos, pois contêm substâncias perigosas, como ácido sulfúrico, e materiais recicláveis, como o chumbo e o plástico.
Podem ser devolvidas nas lojas onde foram adquiridas e sem custo adicional. Pode, também, entregar a bateria usada no momento da compra de uma nova.
Também é possível entregar num centro de recolha licenciado. Esta entrega é gratuita e garante que serão enviadas para reciclagem.
Garanta que a transporta na posição vertical, com aberturas fechadas e voltadas para cima.
Na reciclagem das baterias usadas, o eletrólito é neutralizado e depois encaminhado para tratamento numa ETAR ou convertido em sulfato de sódio, que pode ser utilizado no fabrico de detergentes ou vidro, por exemplo; o plástico é utilizado no fabrico de novas caixas de baterias, mobiliário urbano, tubos de rega ou vasos para plantas; os compostos de chumbo são fundidos juntamente com outros materiais (conforme a composição da sucata e as especificações do produto final em produção) e purificados, produzindo-se lingotes ou moldes. O chumbo de melhor qualidade é utilizado para fabricar novas baterias, sendo o restante utilizado para cartuchos de caça, barreiras de proteção contra radiações, contrapeso para elevadores, lastro para navios, etc.
Consulte os centros de recolha de baterias usadas nos sites das duas entidades gestoras a operar no nosso país, a Valorcar e a Gestão e Valorização de Baterias.
Pilhas e baterias portáteis
Os fabricantes devem conceber os aparelhos de modo a que as pilhas e acumuladores (telemóveis, computadores, etc.) possam ser facilmente removidos e de forma segura. Por conterem substâncias perigosas, como mercúrio, chumbo e cádmio, não podem ser depositados juntamente com os restantes resíduos.
Coloque-as nos contentores específicos para estes tipos de resíduos: pilhões colocados pela autarquia na via pública, nos seus ecopontos e ecocentros, disponíveis nos hiper e supermercados, retalhistas e outras entidades.
Se tiver dificuldade em encontrar um contentor específico perto de si, consulte os sites das entidades gestoras licenciadas para este tipo de resíduos (Ecopilhas, amb3e e a European Recycling Platform.
Depois de recolhidos, as pilhas e acumuladores usados serão transportados para uma entidade licenciada, onde é feita a separação por tipo de resíduo e encaminhamento apropriado para as fábricas de reciclagem.
Automóveis e pneus
Se tiver um veículo em fim de vida, entregue-o num centro de desmantelamento licenciado, da rede Valorcar. O serviço é gratuito, se o veículo estiver completo. Ao entregá-lo, delega naquela entidade a responsabilidade de um tratamento correto, com separação de fluidos, plásticos, vidros, espumas e outros materiais. Além disso, os registos de propriedade e matrícula são automaticamente cancelados.
A Valorcar é responsável pela gestão do sistema de recolha de veículos em fim de vida.
Sempre que mudar os pneus do carro, faça-o num local apropriado, para garantir o destino correto, já que a responsabilidade por cada pneu é do detentor. Em caso de dúvida, contacte um dos pontos de recolha no País. O sistema funciona com a entrega dos pneus em qualquer operadora, sem custos adicionais. Os pneus são depois armazenados e entregues à entidade responsável pelo seu tratamento ou eliminação.
A Valorpneu é responsável pela gestão dos pneus usados, sendo financiada pela cobrança de um Ecovalor na venda dos novos.
Não descarregue óleos usados para o sistema de saneamento: provocam graves problemas de poluição e dificultam a eliminação de outras substâncias, inclusive do próprio óleo. Não misture óleos minerais com outras substâncias, como os alimentares, pois limita o seu posterior tratamento e aproveitamento.
Deposite os óleos minerais usados nos respetivos ecocentros espalhados pelo País. Saiba qual o mais próximo no sítio da entidade responsável pela gestão destes resíduos, a Ecolub/Sogilub, Sociedade de Gestão Integrada de Óleos Lubrificantes Usados. O seu financiamento é assegurado pelos produtores de óleos novos, através do Ecovalor, pagamento de uma prestação por litro de óleo lubrificante vendido.
Óleos alimentares usados
São considerados um resíduo e quem o produz é responsável pelo seu destino final. Um litro de óleo doméstico deitado no ralo da banca da cozinha chega a contaminar de uma só vez 1 milhão de litros de água, o suficiente para a sobrevivência de uma pessoa até aos 40 anos. Por isso, não descarregue os restos de óleo alimentar usado nos sistemas de saneamento. Além de poluir o ambiente, provoca problemas nos sistemas de tratamento de águas residuais. Quando eliminados de forma incontrolada, estes óleos constituem um potencial perigo de contaminação, quer dos solos, quer das águas, tanto ao nível de aquíferos como das ribeiras e águas do mar.
Estes óleos podem ser valorizados em produtos como biodiesel e sabão, sendo por isso essencial proceder à recolha seletiva e encaminhá-los para destinos adequados. Mil litros de óleos alimentares usados permitem produzir entre 920 a 980 litros de biodiesel, combustível que apresenta índices de emissão de dióxido de carbono que podem ser 80% mais baixos do que os emitidos ao utilizar gasóleo.
Após a última utilização, deixe o óleo arrefecer, despeje-o para uma garrafa de plástico usada, coloque um autocolante, identificando óleo alimentar usado, e armazene-a até ficar cheia. Depois, entregue-a num supermercado ou hipermercado que possua um oleão ou coloque-o num dos já disponibilizados na via pública do seu município. Contacte o seu município para saber a localização do oleão mais próximo de si.
Medicamentos
Separe os resíduos de embalagem dos de medicamentos. Os primeiros devem ser colocados no ecoponto amarelo (plástico) ou azul (papel e cartão), consoante o material. Os frascos, blisters, colheres ou copos de medida podem ser entregues na farmácia. Na dúvida, entregue tudo na farmácia (medicamentos, embalagens e acessórios).
A responsabilidade pela gestão dos resíduos de medicamentos é da Valormed, que gere um Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens e Medicamentos (SIGREM). Esta entidade recolhe as embalagens vazias dos medicamentos fora de uso. Depois de separados segundo os materiais (caixas, blisteres, bulas, ampolas, bisnagas ou frascos), as embalagens seguem para reciclagem e os medicamentos, para incineração. Quando entregar na farmácia, acondicione de forma a evitar o derrame de qualquer produto.
Pode entregar as radiografias com mais de cinco anos ou sem valor de diagnóstico na farmácia durante todo o ano. Não há uma rede específica para gerir a recolha de radiografias, pelo que as farmácias e a AMI têm desenvolvido campanhas de sensibilização. Esta operação permite à AMI financiar uma parte significativa da sua intervenção humanitária. Além de ajudar o ambiente, está a apoiar uma boa causa.
Pesticidas, herbicidas e afins (produtos fitofarmacêuticos)
Entregue os resíduos resultantes da utilização de biocidas no centro de receção mais próximo, incluindo as embalagens (não as deposite no ecoponto amarelo). Confira a listagem dos vários centros no sítio da Valorfito, Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura (SIGERU). Esta entidade armazena temporariamente os resíduos de embalagens de produtos fitofarmacêuticos em sacos que foram distribuídos nos pontos de venda, sendo que muitas vezes funcionam também como centros de receção. Os resíduos aí depositados são depois recolhidos por operadores licenciados, ficando a gestão final a cargo da Valorfito, que os encaminha para estações de tratamento e valorização energética, entre outras.
Embalagens
Reutilize, tanto quanto possível, caixas de plástico, frascos de vidro ou latas para armazenar alimentos não perecíveis, ou outros objetos.
Aproveite as embalagens para novos usos.
Plásticos e metais
Os ciclos de preservação de valor são a reparação, a manutenção, e a reutilização, para os quais existe um potencial significativo, especialmente em produtos plásticos duráveis. Na verdade, a reutilização é considerada a melhor opção para mais de 20% das embalagens de plástico atualmente disponíveis no mercado.
Para a maioria das restantes, a reciclagem é crucial, por gerar fluxos de materiais circulares. A reciclagem mecânica é, hoje, um processo eficiente para reprocessar plásticos em novas resinas, que podem ser reincorporadas em produtos de consumo. E as vantagens são enormes:
- a pegada de carbono dos plásticos reciclados pode ser até 10 vezes menor do que a de um equivalente virgem;
- os plásticos reciclados economizam cerca de 1-1,5 kg de CO2/kg de resina em comparação com o material virgem;
- estima-se que cada kg de plástico reciclado conduz a uma economia de energia de 130 000 kJ;
- a reciclagem de plásticos é também economicamente atraente para cumprir a política de baixo carbono definida pela UE.
Deposite garrafas PET (água, refrigerantes), embalagens de champô, gel de banho, desodorizantes, de maquilhagem, e ainda latas e pacotes de leite no ecoponto amarelo.
Papel/cartão
Deposite papel usado (cadernos, jornais e revistas, desdobráveis, etc.) e cartão (caixotes de supermercado, caixas de eletrodomésticos) no ecoponto azul.
Vidro
Deposite garrafas, frascos e boiões de iogurte no ecoponto verde.
Fonte: DECO